A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 86

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partir da análise de jornais e periódicos deve necessariamente traçar as principais
características dos órgãos de imprensa consultados. Mesmo quando não se faz
História da Imprensa propriamente dita – mas antes o que chamamos História Através
da Imprensa – está-se sempre ‘esbarrando’ nela, pela necessidade de historicizar os
jornais”.
Outro autor que orienta de maneira pertinente a pesquisa em periódicos é
Pierre Albert, que fornece indicações metodológicas citadas e aceitas pela autora
mencionada anteriormente. Albert assevera que o pesquisador, no estudo da
imprensa, deve considerar três dimensões: “atrás do jornal”, “dentro do jornal” e, por
fim, “em frente ao jornal”. A primeira dimensão é caracterizada por tudo aquilo que
concorre para a realização do jornal e que intervém no seu controle, como a sociedade
proprietária, empresa editorial e corpo de redatores e jornalistas. A dimensão “dentro
do jornal” compreende as características formais da publicação, o estilo de
apresentação das matérias e notícias, o quadro redacional – distribuição dos artigos e
pelas diferentes colunas e seções que compõem uma edição -, a parte redacional –
colunas e seções mais importantes -, a publicidade e as principais tendências da
publicação. Enfim, a dimensão “em frente ao jornal” está relacionada com o consumo
do jornal e o seu público-leitor alvo. Ademais, Zicman considera que estas três
dimensões definem dois amplos tipos de análise, quais sejam: a caracterização geral
dos jornais consultados; e a análise de conteúdos do discurso da imprensa. Portanto,
esses dois tipos de análise se ocupam com a forma e o conteúdo da imprensa, os
quais são os dois elementos constitutivos da natureza da imprensa e que seguem em
relações de interdependência e de interdeterminação.
Assim, o pesquisador deve ter atenção especial aos sentidos das formas
materiais organizadoras da leitura, uma vez que as formas, os dispositivos técnicos –
visuais e físicos – podem comandar, senão a imposição do sentido do texto, os usos
que podem ser investidos e as apropriações que podem suscitar. Dessa maneira,
pode-se apreender do material jornalístico a ser consultado o intento, por parte dos
agentes envolvidos na sua produção, da elaboração de representações acerca do
rádio como tecnologia, como meio de comunicação, seu desenvolvimento no Brasil e a
fusão jornal/rádio, bem como os esquemas de apropriação – expressos nas formas
utilizadas na composição e divulgação daquele material, seja por matérias especiais,
suplementos, editoriais, etc - de visões de mundo que os produtores buscavam
suscitar junto ao público leitor.
R
EFERÊNCIAS
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