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Revolucionário em Curso
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O Globo
daria respaldo para os movimentos de oposição
que incitariam um agravamento da situação política portuguesa, como a denominada
“maioria silenciosa”. Esta denominação foi utilizada para referir-se a grupos da
sociedade civil e de militares que, apoiados por conservadores ligados ao salazarismo,
manifestariam apoio ao então presidente General Antonio de Spínola, que então
demonstrava interesse em deter o avanço das forças de esquerda presentes no seio
da oficialidade militar e, consequentemente, do próprio Governo.
A proibição da manifestação, a prisão de generais conservadores e
consequente derrota de Spínola, que culminariam com a derrota da direita civil e a
renúncia do general presidente, seriam expostas aos leitores de OG, em editorial
publicado dois dias após a renúncia, como um atentado à liberdade de expressão
política, que teria passado, então “oficialmente ao monopólio das tendências de
esquerda incrustadas no Movimento das Forças Armadas e, por extensão, na
estrutura do poder nacional”. (MARINHO, Roberto.
Maioria
Silenciada. O Globo, Rio
de Janeiro, 02 out. 1974, Caderno 01, p. 01.). A renúncia de Spínola seria divulgada,
neste mesmo editorial, como um sacrifício, resultante dos quatro meses de agitação
política provocada pelo avanço comunista. A convocação da manifestação da maioria
silenciada, aludida por diversos setores do Movimento das Forças Armadas (MFA) à
época e corroborado pela historiografia recente como tentativa de golpe interno
arquitetado por Spínola
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seria igualmente entendida dentro do ideário do periódico,
como fruto da benevolência de Spínola, que almejava então “apenas que a liberdade
conquistada para os portugueses, depois de meio século de autoritarismo, fosse
distribuída para todas as parcelas legitimamente representativas da Nação, e não
empolgada e manipulada por um grupo ideológico minoritário” (MARINHO, Roberto.
Maioria
Silenciada. O Globo, Rio de Janeiro, 02 out. 1974, Caderno 01, p. 01.).
A demonstração de apreensão para com o avanço das tendências de esquerda
em solo lusitano permeia o noticiário internacional diário do periódico desde a eclosão
do movimento, mas há momentos em que as preocupações aparentam maior
intensidade, como, por exemplo, quanto da ocorrência do denominado “Verão
Quente”, período de aparente interminável crise política, compreendido entre março e
novembro de 1975. Após a tentativa tomada de um quartel de artilharia por um grupo
de paraquedistas, teve início um longo período de crise no poder político português,
que repercutiu em ações violentas contra sedes de partidos de esquerda e
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Designação do período iniciado com a Revolução de 25 de Abril de 1974 e concluído com a
aprovação da Constituição Portuguesa, em 1976.
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Sobretudo em AUGUSTO, 2011, p 87-90 e SECCO, 2004, p.127, 134-5.