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civil-militar de 1964, justificando sua opção política. Marinho justificaria a participação
no golpe civil-militar afirmando que: “participamos da Revolução de 1964, identificados
com os anseios nacionais de preservação das liberdades democráticas, ameaçadas
pela radicalização ideológica” (MARINHO, Roberto.
Julgamento da Revolução
. O
Globo, Rio de Janeiro, 07 out. 1984, Caderno 01, p. 01.) e ainda afirmaria, já no
período final do regime militar, que os órgãos midiáticos do grupo por ele presidido
teriam “permanecidos fiéis aos seus objetivos, embora conflitando em várias
oportunidades com aqueles que pretenderam assumir a autoria do processo
revolucionário” (
Idem
).
Ao tratar de um dos momentos mais críticos em relação às liberdades civis na
história recente do país, quando da adoção do Ato Institucional Nº5, Marinho destaca
que a adoção de tal Ato fora justificável, pautando-se na suposta intensificação dos
atos de terrorismo, destacando ainda o fim deste recurso discricionário, já sob o
governo Geisel, onde, segundo o editorial, findou-se “o período discricionário,
significando que os anseios de liberalização que Castelo Branco e Costa e Silva
manifestaram em diversas ocasiões e que Médici vislumbrou em seu primeiro
pronunciamento finalmente se concretizavam”. (MARINHO, Roberto.
Julgamento da
Revolução
.
O Globo
, Rio de Janeiro, 07 out. 1984, Caderno 01, p. 01.). Neste editorial
revelador, Marinho ainda apresenta dados relativos ao decréscimo da inflação e ao
crescimento econômico do país sob o comando militar, sem ao menos citar os
diversos momentos de repressão dos governos militares.
Ao contrário dos demais órgãos da grande imprensa brasileira,
O Globo
deixaria claro que seu posicionamento político não estaria em acordo com os avanços
das esquerdas lusitanas, posição que não ficaria restrita aos editoriais de Roberto
Marinho, posto expressada em editoriais e notícias diversas, sempre em tom de
oposição ao pensamento das esquerdas, fosse socialistas, fosse comunista. Posição
do jornal que, além da convergência com o posicionamento ideológico de seu
proprietário, revela a sua desconsideração ou apreensão com relação ao papel
importante das esquerdas portuguesas na reconquista da vida democrática. De certa
forma, é licito pensar que o proprietário de
O Globo
, por vias transversas, deixava
transparecer que o processo de abertura prometido pelo governo Geisel estaria no
caminho certo, uma vez que seria orquestrado do centro do poder para a sociedade e
não o contrário.
Parece-nos bastante claro que,
O Globo
e demais periódicos da grande
imprensa brasileira, ao noticiar e comentar os acontecimentos relativos à eclosão da
Revolução dos Cravos e aos primeiros desdobramentos daquele movimento político, o
fizeram tendo em vista a dinâmica do quadro político do Brasil, ainda sob a vigência de