A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 108

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(FTD) assim diz: “como dogma central, o islamismo afirma: “Alá é o único Deus e
Maomé, seu último e maior profeta”” (p.190). Se recuarmos à década de oitenta,
poderemos ver Renato Mocelin em seu
História Geral
apontando para a mesma
direção “Alá é o único Deus e Maomé é o mais importante dos profetas” (Ed do Brasil,
São Paulo, 1985). Esta tradição parece enraizada quando podemos observar em livro
de 1955 de Taunay e Dicamôr as seguintes informações:
“Ate o século VII [o povo árabe] ainda professava uma religião
politeísta, tendo Ala como deus principal, alem de cerca de 300 “djins”
(...) Meca foi a cidade eleita para reunir os 300 ídolos tribais (djins),
inclusive uma pedra que se dizia ter sido branca e se tornara negra
pelos pecados dos homens. Por isso, passou a cidade de Meca a ser
grandemente visitada por peregrinos, transformando-se, assim, no
mais importante centro religioso e comercial da Arábia”. (apud
BERTOLINI, 2011, p 122 )
Se retrocedermos mais alguns anos, encontraremos em livro de 1939, escrito
por Joaquim Silva, o mesmo tom ao apresentar a “Doutrina de Maomet”:
O Islão (abandono a vontade de Deus) e uma mistura de superstições
árabes com idéias cristas e judaicas. Ensina a existência de um só
Deus, Alá, que enviou a terra vários profetas como Abraão, Moises e
Jesus, os quais revelaram parte da verdade religiosa; Maomet,
porém, era o último e o maior. (apud BERTOLINI, 2011, p 120)
Tal visão retrospectiva aponta para uma estrutura orientalista
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de longa
duração predominante no ocidente como bem demonstrou Edward Said (2003), pois
os livros didáticos brasileiros foram influenciados principalmente pelos livros franceses,
sobretudo no século XIX, embora esta influência também se estenda ao século
seguinte. Essa influência não fica restrita aos livros didáticos, é notável em todos os
níveis de ensino e em muitas áreas do saber, principalmente na historiografia
8 Orientalismo é um termo comumente utilizado para definir o estudo por cientistas e
intelectuais das culturas eurocêntricas do conjunto histórico e cultural teoricamente constituído
por todas as sociedades
"fora"
do contexto
ocidental
da cultura europeia. O termo é também
utilizado para designar a utilização por artistas e criadores
ocidentais
de elementos, descrições
ou imitações culturalmente conotadas com as culturas dita
orientais
. Popularizado como um
campo de estudo desde o século XVIII, mas tendo adquirido particularidades institucionais a
partir do colonialismo moderno do século XIX, o
"orientalismo"
estudava, sem distinções, um
vasto grupo de civilizações que incluem o Extremo Oriente, a Índia, a Ásia Central, o Médio
Oriente (vulgarizado pela designação
mundo árabe
) e mesmo a África, em alguns casos. O
orientalismo serviu com uma ferramenta legitimadora da exploração colonial através de um
trabalho de pesquisa pautado, antes de tudo, na hipótese da inferioridade racial e cultural de
todas as civilizações não europeias. O seu objetivo, não assumido, foi a busca da justificação
do processo imperialista através do discurso de redenção dos "primitivos, inferiores e
subdesenvolvidos". Tal postura foi revista pelo intelectual Edward Said (2003), em cujo livro
"Orientalismo" ficam explícitos como tais expedientes atuam, até os dias de hoje, na construção
da imagem do mundo islâmico.
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