A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 107

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divergências de duas naturezas: factuais e conceituais, entre as primeiras constam
erros graves relativo a usos impróprios de palavras como “Alá” e “maometismo” , além
de informações inexatas a respeito do casamento de Maomé, dos profetas
reconhecidos pelo Islã e do jejum de Ramadã. Já com relação às divergências
conceituais são destacados o Jihad, a Hégira, escravidão e poligamia.
Estudo de caso
Tomaremos aqui como exemplo para análise, dois livros didáticos assinados
por Gilberto Cotrim produzidos nos anos de 1994 e 2011 que se destinam ao ensino
médio. Dezessete anos separam os dois livros, Cotrim é um dos mais longevos
autores de livros didáticos do Brasil ainda em atividade, está no catálogo da Editora
Saraiva desde o início da década de oitenta e também ocupa posição de destaque
entre os autores de LD não só pelas expressivas vendas, mas também por ser uma
das lideranças da ABRALE – Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos. É
graduado em História pela USP, bacharel em Direito e mestre em Educação, Arte e
História da Cultura pela Universidade Mackenzie
7.
A seguir reproduzimos o texto de Gilberto Cotrim (1994, p. 124) sobre a
Doutrina Islâmica
“Um dos aspectos mais importantes da religião pregada por Maomé é
a total submissão do homem à vontade do Deus único do universo,
denominado Alá. Essa submissão plena é chamada de islão e aquele
que tem fé é conhecido como muslim.
O conteúdo básico da doutrina muçulmana (também chamada
islâmica ou maometana) pode ser resumido em cinco regras
essenciais:
Crer em Alá, o único Deus, e em Maomé, seu profeta.
Realizar cinco orações diárias.
Ser generoso para com os pobres e dar esmolas.
Obedecer ao jejum religioso durante o ramadã (mês anual de jejum)
Ir em peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida *(grifos
constantes no original)
Como pode ser observado, há imprecisões que começam por apresentar ao
leitor que “Alá” é o nome do Deus único do Islã, enquanto a realidade é que o Islã
professa a fé no mesmo Deus monoteísta de judeus e cristãos, sendo “Alá” apenas a
palavra árabe que corresponde à Deus na língua portuguesa.
Aqui convém notar que Cotrim não é o único autor-escritor que comete tal
equívoco. Lançado no mesmo ano de 1994, o livro
História Geral
de Borges Hermida
7
Informações da página oficial do autor
/, acesso 21de janeiro
de 2013.
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