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No ano de 1974, articulou-se o que o governo militar definiria como o primeiro
passo para a distensão política. Sob o comando do então Senador Petrônio Portella,
que consultou lideranças políticas, sobremaneira Arenistas, definiu-se a sucessão dos
governos estaduais, ainda de maneira indireta, e com forte controle governista. Para o
então diretor, redator e chefe do periódico, a denominada “Missão Portella”,
representaram sensível evolução dentro do quadro das eleições indiretas. A eleição
indireta seria ainda caracterizada como fruto das “boas intenções do Presidente
Ernesto Geisel no sentido de uma reabertura política gradual” (MARINHO, Roberto.
Saldos do Consenso.
O Globo, Rio de Janeiro, 21 jun. 1974, Caderno 01, p. 01.),
tendo sido considerada positiva, sobretudo, ao “colocar o mecanismo democrático em
funcionamento, ainda quando de forma incompleta e mesmo claudicante” (
Idem
).
Demonstrando a ambiguidade da concepção democrática do periódico, atestava-se ao
fim deste editorial que seria ingênuo esperar que algum dia o mecanismo democrático
“opere com perfeição” (
Idem
).
Outro editorial no qual se apresenta, de maneira bastante evidente, o
posicionamento político calcado na aproximação do jornal com o governo militar seria
publicado em março de 1975. Neste texto, que não seria assinado por Marinho, a
distensão política, “gesto supremo e magnânimo da Revolução”, é vista como fruto da
coragem e da profunda consciência democrática de Ernesto Geisel, afirmando ainda
que:
Ao convocá-lo para o Governo, a Revolução, pelas forças que a
mantêm viva, operante e dominante no quadro político nacional,
aprova o largo passo dado no sentido do paulatino restabelecimento
de certas franquias que o combate à subversão obrigara a suspender.
(
Enquanto é tempo.
O Globo, Rio de Janeiro, 23 mar. 1975, Caderno
01, p. 01.).
Notam-se neste trecho, além da exaltação do regime militar, uma justificativa
às medidas autoritárias praticadas pelo mesmo regime, buscando justificar o que nos
parece injustificável. Em maio do mesmo ano, em editorial que celebraria o
cinquentenário do matutino, há a publicação de texto onde a história do órgão de
imprensa fundado por Irineu Marinho confunde-se com a história dos rumos políticos
do país. No editorial em que se propunha a homenagear o próprio pai e o jornal por
este fundado, Roberto Marinho acaba por exaltar mais o próprio regime militar do que
a própria trajetória do jornal, em trechos contundentes como:
Em 31 de março de 1964, a Nação se reencontrou; os tenentes,
então generais reformados, os expedicionários, então responsáveis