A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 98

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pela Chefia das Forças Armadas, e os líderes políticos herdeiros das
tradições de várias décadas de lutas pela democracia uniram-se, sob
a pressão das grandes marchas populares, para uma nova
Revolução. O GLOBO, integrado no processo revolucionário, apenas
exigiu que não se repetissem as indecisões e indefinições de 1930 e
de 1945. Onze anos são passados: o crescimento econômico do País
e o firme combate à subversão criaram condições de trabalho
profícuo. (MARINHO, Roberto.
Cinqüenta Anos
. O Globo, Rio de
Janeiro, 04 maio 1975, Caderno 01, p. 02.)
Ademais, a distensão anunciada pelo então presidente Ernesto Geisel, foi
tratada nas páginas do matutino de maneira bastante otimista. Na opinião
demonstrada no matutino, o instante máximo deste movimento liberalizador idealizado
por Geisel teria sido a eleição legislativa de 15 de novembro de 1974, na qual a
oposição representada pelo MDB conquistou expressiva vitória em diversos Estados.
No entanto, na opinião de
O Globo
, havia então se formado: “[...] uma excitada
oposição, nitidamente dividida entre uma parte esgotada pelo tempo e incapaz de
exercer sobre o partido a liderança que detém apenas nominalmente, e outra parte
constituída de medalhões
vedetíssimos
ou jovens inexperientes e afoitos.” (
Enquanto
é tempo
. O Globo, Rio de Janeiro, 23 mar. 1975, Caderno 01, p. 01.) Seria esta
oposição, caracterizada ainda como ala irresponsável, culpada por buscar o
julgamento dos governos militares, pois, ao invés de “concorrer, como é de sua
obrigação, para o aprimoramento do regime, volta-se levianamente para o passado,
revirando cinzas que a Nação deseja ver apagadas” (
Idem
), afirmando ainda que os
legisladores eleitos pelo MDB agiam de tal modo “sem perceber que, de tal gesto
imprudente, pode de novo emergir o fogo que tudo devora.” (
Idem
)
Após esta afirmação, o editorial adotaria novamente um categórico na defesa
do Governo de Ernesto Geisel ao afirmar que:
O governo do General Geisel nada tem a responder por excessos
acaso cometidos no combate à subversão, duramente travado no
curso do terceiro período revolucionário. Tratava-se de uma guerra e
ninguém responde pelas baixas de uma guerra. Mas, em nome da
paz nacional, impõe-se colocar uma pedra, definitivamente, sobre o
passado. O atual Governo, seqüência coerente e solidária dos
anteriores governos revolucionários, evidentemente não permitirá o
vilipêndio da Revolução. (
Enquanto é tempo
. O Globo, Rio de
Janeiro, 23 mar. 1975, Caderno 01, p. 01.)
O alinhamento do matutino das organizações Globo para com os regimes
militares no campo político nacional, notado em nossa pesquisa a partir de 1974,
ficaria evidenciado de maneira bastante clara em 1984, quando em editorial por ele
assinado, o proprietário do conglomerado midiático declara a participação no golpe
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