No quarto verso, o noivo de Maria é apresentado, mas, curiosamente, ao invés de
mostrá-lo no trabalho, assim como sua esposa, o verbo “
colimando”
dá um sentido de
observação somente da “
machamba”,
isto é, o noivo da Maria, que não é nomeado, está
simplesmente a observar o terreno a sua frente,
“pensando no Transval”,
o qual,
possivelmente, remete ao progresso do arado, da máquina de terraplenagem e não mais
no trabalho escravo e manual, o que talvez caracterize um pensamento de modernização
de sua machamba. Uma curiosidade a respeito do trabalho em Moçambique que casa
com o poema, é que no país o trabalho doméstico era feito, na sua maioria, pelos
homens, enquanto que o rural era feito pelas mulheres; por isso, talvez, que a figura da
mulher trabalhando esteja em destaque e não a do homem.
Como se passássemos para outra cena, a estrofe seguinte, com seis versos, nos
mostra outra personagem, em outra situação:
“uma velha negra”
em seu ofício diário
na cozinha. O pronome
“uma”
, com função adjetiva e o nome
“negra”
, com função
adjetiva também, dão destaque ao nome-substantivo
“velha”
, e, também, o próprio
nome-adjetivo
“negra”
ressalta a escuridão do período vivenciado pelas personagens
do poema, pois o vocábulo tem a possibilidade de imitar sons graves e dá uma ideia de
fechamento, escuridão e tristeza.
O primeiro verso começa com a mesma frase da estrofe anterior, dando ênfase
na hora da escuridão, da imprecisão e da instabilidade do tempo crepuscular. E, mais
uma vez, a preposição
“para”
isola a personagem e a sua atividade. Novamente, têm-se
os verbos conjugados no gerúndio, localizados no terceiro e quarto versos - “
abanando
e assando”
, ou seja, ressaltando uma atividade que está ocorrendo no momento em que
lemos o poema, ou mesmo frisando a luta diária e a repetição de seres predestinados à
escuridão de suas rotinas colonizadas.
Diferentemente da estrofe anterior, no quinto verso há a voz da personagem, ou
melhor, o pensamento e o desejo dela transpassado pelo narrador/voz poética do poema.
Para a viabilidade deste efeito, há o uso do discurso indireto-livre, que expressa tanto a
voz internalizada da personagem quanto a da voz poética que diz: “Milho bom! Eh!
Milho bom!” Mas logo no verso final desta estrofe, a voz poética dominante quebra a
sua pequena alegria, dizendo que tudo isso é dito “
numa voz desnecessária”.
O nome-
adjetivo
“desnecessária”
dá uma qualidade pejorativa ao vocábulo
“voz”
, já que por