mais que a velha negra ache seu milho bom, numa ambiente crepuscular, colonizado,
negro e sem muita esperança, a voz se torna fraca e quase inaudível.
A terceira estrofe, diferente das duas primeiras, é composta por sete versos e,
logo no primeiro há, novamente, a repetição do primeiro verso das duas estrofes
anteriores, fixando o tempo do poema; mesmo que Massaud Moisés diga que a poesia é
atemporal, e que viva num tempo interno, a temática deste poema instala-se sobre um
tempo marcado, contudo, não está numa cronologia física, mas num tempo eternizado.
A imagem ressaltada no segundo verso concentra-se em um bazar chamado
piripiri, segundo o dicionário Houaiss esta palavra designa-se a uma planta da qual se
extraí a fibra, curiosamente, presente no México e na Argentina; porém, aqui nesta
estrofe, quiçá, a ênfase não é dada à planta, mas no que é vendido e fornecido no bazar:
“manga, coco e mulata”.
A suposta venda de manga e coco nos é habitual, todavia o
vocábulo
“mulata”
cria uma ambiguidade e uma estranheza na leitura, pois tanto elas
podem ser vendidas no bazar como prostitutas – a prostituição teve a sua atividade
intensificada durante o colonialismo, sendo uma das poucas saídas de sobrevivência das
mulheres-mulatas em tempos difíceis – ou mesmo como atendentes. Entretanto, a ênfase
sobre as mulatas continua na estrofe seguinte, porém, uma imagem maternal é frisada
nos versos que seguem com as palavras
“tetas nuas, leite tão branco e puro, leite
secretado e tetas pudicas”.
Mesmo com uma possível imagem mais maternal, através da preposição
“por”
e do pronome-adjetivo
“outras”
, no último verso, elas quebram o tom somente
materno, uma vez que por mais puras que sejam as tetas nuas que vertem o branco e
puro leite secretado, não são tão boas quanto aquelas que são mais pudicas, isto é, a
imagem reforçada de mulheres impuras, prostitutas, é destacada no ambiente da
imposição colonial, mostrando que o leite puro torna-se impuro em mulatas do bazar.
A quarta estrofe, novamente, repete o início das demais, contudo, outra imagem
ou cena é criada aos olhos do leitor, misturando os vocábulos
“cartas, chibalos, mãos,
terra, semente e passado”
, os quais, à primeira leitura, parecem desconectados, mas,
por meio da significação que ganham no espaço poético da estrofe, recebem outros
entornos. Na segunda e terceira estrofes as frases “
cartas por escrever dos chibalos
1...,76,77,78,79,80,81,82,83,84,85 87,88,89,90,91,92,93,94,95,96,...445