São cinco horas da manhã
Do Rovuma à Ponta de Ouro
São, na coragem que temos
Para sabermos que são.
O poema
Cinco Horas da Manhã
é composto por nove estrofes, todas elas sem
rimas, versos brancos, possivelmente mostrando um desprendimento da forma e do
conteúdo, acompanhando o contexto colonial em Moçambique; isto é, assim como a
nação, que estava em processo de descolonização, a narração poética também combate o
espaço opressivo como manifestação da liberdade literária. Apesar de a poesia viver
num espaço atemporal, não se inserindo num determinado tempo, ou melhor, em sua
essência, assim como define Moisés Massaud, ela é a-histórica, a-narrativa e a-
geográfica, ela pode escolher o tempo como tema. No caso das poesias de Orlando
Mendes o tempo colonial é escolhido como temática central de sua poética: “[...] o
‘tempo’ interno do poema foge das regras do tempo histórico, e apenas conhece o
‘tempo’ da emoção-sentimento-conceito que neles se corporifica...” (MOISÉS, 1972,
p.43).
As primeiras quatro estrofes do poema estão focalizadas nas cinco horas da
manhã - tempo do fim da escuridão, o limite da madrugada e o início da manhã, o
crepúsculo - o qual cria a tensão temática da poesia. Assim, os quatro primeiro versos
dialogam com a situação reprimida, submissa e opressora nas terras colonizadas de
Moçambique sentidas por seus habitantes; portanto, forma, conteúdo e contexto unem-
se para evidenciarem um tempo de escuridão, mas prestes a um futuro mais próspero, o
qual é expresso nas cinco estrofes seguintes.
A primeira estrofe é formada por seis versos, sendo que o primeiro deles inicia a
oração por um verbo sem ação “
são”.
Ao
fazer uma análise sintática da estrofe, o verbo
“são”
, derivado do infinito
“ser”
, dá a ligação entre o predicado e o sujeito da frase, ou
seja, através da função predicativa, ou copulativa, o verbo
“são”
liga
“cinco horas da
manhã para Maria pilando”
. Além disso, os versos têm a ordem direta da frase
invertida, ao invés de
“às cinco horas da manhã Maria está pilando” ou “Maria está
pilando às cinco horas da manhã”,
tem-se o contrário, sendo que o verbo
“ser”,
conjugado no presente do indicativo, dá ênfase e destaque à hora momentânea da ação
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