sonolentos”
entrelaçam-se por meio do significado contextual do poema, pois as cartas
estão por escrever, visto que há a possibilidade de que elas não tenham sido escritas
justamente pela imposição e censura do colonialismo. Além do mais, a população
estava presa ao trabalho forçado, mal pago, quando pago; enfim, em situação de
trabalho escravo, definindo a prática do chibalo, portanto. A imagem criada pela
metáfora “
chibalos sonolentos”
casa com a das “
cartas por escrever
”, já que numa terra
sonolenta, presa à escuridão, em meio ao tempo crepuscular, o colonialismo instaura um
tempo de sonambulismo na terra controlada pelas mãos dos colonizadores, sem ter
como comunicar-se efetivamente/livremente. A própria conjugação verbal no infinitivo
(escrever), acentua a ação inconclusa - que fica por fazer.
Ademais, o próprio nome-adjetivo “
sonolentos
” contribui para uma imagem
escura e desolada da terra representada pelo poema, já que a palavra “sonolentos” traz
em sua raiz a ideia do sono e evoca a imagem da noite consigo.
Os dois últimos versos fecham as imagens da escuridão e da falta de esperança,
pois as mãos que trabalham e dão à terra sua força de trabalho, a semeiam sem passado,
sem apego e respeito às tradições; já que o colonizador trouxe consigo a “catequização
civilizada e superior” aos “brutos selvagens” do continente. Portanto, a semente sem
passado representa uma situação infértil às gerações futuras, pois se o passado não for
representado no presente, o futuro semear não mais existirá efetivamente.
Curiosamente, na quinta estrofe, o número cinco, tão marcado em todas as
quatro estrofes anteriores, é escolhido para representar o tempo de uma nova esperança
a situação vivida, portanto, imagens de claridade contrapor-se-ão às escuras. Outro fator
evidente é que a mudança do estado evocado pela poesia se encontra justamente no
meio do poema: entre nove estrofes, a quinta delas separa quatro de um lado e mais
quatro de outro, sendo o centro pulsante da forma e do conteúdo poético, sem contar
que esta estrofe é marcada pela imagem do ato de parir, do sangue, de nervos inclinados
ao futuro latejante, ou seja, o surgimento de um novo tempo, vejamos: no segundo verso
o nome-adjetivo
“confiante
” acopla-se ao nome-substantivo “
coração
”, pulsando uma
sensação nova e esperançosa. E esse estímulo provocado é parido pelas mulheres que
dão luz às novas esperanças do país, os seus filhos. O verbo parir traz com ele uma ideia
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