que ficará marcada ao longo do poema. E, também, como o verbo
“são”
, que inicia a
estrofe e percorre pelo poema, é uma palavra estática, sem ação, possivelmente
representa uma nação que está de mãos atadas frente o domínio colonial, presa a
atitudes imóveis e sem ressonâncias.
A preposição
“para”,
que abre o segundo verso, expressa certa solidão na
atividade de pilar, de triturar os alimentos, pois parece que às cinco horas da manhã só
Maria está pilando debaixo do cajueiro, ou mesmo às cinco horas da manhã é só para
Maria pilar. Possivelmente o nome
“Maria”
indica uma série de Marias que pilam
incessantemente solitárias no amanhecer do dia e na perseverança de um futuro mais
próspero e menos escuro; mas neste verso se sobressai a atividade solitária, evocando,
portanto, vozes uníssonas, que, todavia, são executadas isoladamente. Assim, destaca-se
a tristeza e a desilusão de mulheres e homens que trabalham incessantemente numa
prática sem muita esperança.
A conjugação do verbo
“são”
, no presente do indicativo, e do verbo
“pilando”
,
no gerúndio, dão a sensação de uma ação que está ocorrendo no momento em que se lê,
assim a leitura reverbera e acompanha o momento da realização da ação. Os verbos dos
versos seguintes, “
colimando e pensando”,
também reforçam essa premissa. Ademais,
Maria está pilando debaixo de um cajueiro, o qual é uma planta abundante em
Moçambique da qual se extraí a apreciada castanha do caju, representando e fixando
alguns símbolos do ambiente em que vive.
O poema é apresentado como se fosse uma narrativa, ou seja, com traços de uma
prosa poética, já que Orlando Mendes se consagra como romancista primeiramente. O
narrador, ou
a voz poética
que emana do poema
,
vai mostrando as personagens e
evidenciando a sua classe social e situação de vida. Por meio de suas caracterizações,
descobre-se tanto uma literatura que estava se abrindo para uma “manhã mais clara”,
quanto uma nação que tentava sair do estado de colonização. Massaud Moisés diz que o
poeta normalmente repudia o enredo e a natureza de narrar, já que sugere mais
evocações de sentimentos e emoções; portanto, narra-se os sentimentos e a sensação de
uma terra em tensão com seu espaço.