“illuminare”: o sujeito recebe e pratica a ação (a luz penetra e sai da voz poética). Já no
segundo verso, “de imenso”, põe-se em dúvida o que ou quem seria “imenso”, sendo o
adjetivo um dos determinantes da “coisa”. Seria ele a própria “Manhã”?
Dessa forma, percebe-se que título e corpo poético fundem-se. A voz poética
está embebida de luz, a força de seu raiar com direções múltiplas cria o imenso da
manhã que é indefinível, mas, na imagem poética é (re)criada. A sensação da presença
dessa manhã é ainda mais marcante devido à escolha do tempo e modo verbais, presente
do indicativo, que expressam a ocorrência do “deslumbrar-se” no ato da enunciação e de
uma ação que perdura no tempo. Em vista disso, o rompimento do limite espaço-
temporal pela imagem poética possibilita ao Leitor a captação desse instante, de um
momento “real” transfigurado em palavras.
A “luz”, ligada à terra nativa de Ungaretti, pode ser observada em “Ricordo
d’Affrica”
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, na versão traduzida a seguir:
RECORDAÇÃO AFRICANA
O sol rapta a cidade
Nada mais se vê
Nem mesmo os túmulos resistem muito
Apesar das origens italianas, Ungaretti nasceu em Alexandria, no Egito. A
família teria emigrado para o continente africano, porque o pai iria trabalhar na
construção do Canal de Suez.
Nesse poema, a imagem relacionada à luz intensifica tanto o eternizar de uma
lembrança como o seu esvaecer. No primeiro caso, a ação brusca da luz solar que rapta
a cidade faz com que essa recordação ultrapasse até mesmo o físico, vá além da morte.
E, por isso, nem mesmo os túmulos resistem. Sobre a eternidade dessas lembranças é
válido mencionar o que diz Ungaretti sobre o Egito:
8
Il sole rapisce la città// Non si vede più// Neanche le tombe resistono molto, em
A Alegria
, p.22.