seu estado de ânimo, e que, se algum progresso alcançou como artista,
gostaria que ele indicasse, também, que alguma perfeição o
acompanhou enquanto homem. Ele amadureceu como homem em
meio a acontecimentos extraordinários, aos quais nunca foi estranho.
Sem jamais negar a necessidade universal da poesia, pensou sempre
que, para deixar-se imaginar, o universal deve, através de um ativo
sentimento histórico, acordar-se com a voz singular do poeta
3
.
A busca desenfreada por sua identidade e sua relação com as coisas do mundo,
faz com que essa voz singular retorne às origens da palavra para se expressar. Deseja-se
a “palavra inocente”, “pura” que volte a significar o que ela realmente É, até porque, “a
linguagem, voltada sobre si mesma, diz o que por natureza parecia escapar-lhe. O dizer
poético diz o indizível” (PAZ, 2009, p.49). Nesse sentido, em
L’Allegria
, no “verso-
parola” há a ideia de reconstruir, recuperar a sintaxe, a força da palavra.
Deve-se levar em consideração, do mesmo modo, que essa palavra desnuda,
quase crua e seca, tem a ver com aquele ambiente peculiar em que foi gerida. Naquelas
condições, a extrema concisão era quase que obrigatória. Não havia tempo, nem espaço
a desperdiçar. Vivia-se, sentia-se e transformavam-se palavras em imagens poéticas que
abarcavam em si a pluralidade do real, com todas as qualidades, sensações e
significados daqueles instantes.
Se é preciso buscar as palavras nas suas origens, também, é necessário retornar
ao princípio histórico daquele que escreve. Assim, através da “memória”, Ungaretti
volta a sua terra natal que lhe é, ao mesmo tempo, tão intrínseca e tão distante. Em seus
poemas, geralmente, a imagem da luz, está relacionada ao deserto de Alexandria, lugar
onde não se via os limites, as fronteiras espaço-temporais e, por essa razão, desde cedo
o poeta pôde sentir o Todo.
A urgência dessa relação com o Absoluto veio à tona com todo vigor novamente
com a presença da morte. Era preciso sentir a Vida, mas a Vida em sua Totalidade. Por
isso, a imagem poética possui uma força tão grande em sua obra e o tema da luz é uma
constante. Através da “luz” potencializada pela imagem era possível (des)velar aqueles
“mistérios” inerentes ao ser humano, ainda que por alguns instantes, a Verdade
encontrava-se livre, sem nenhum empecilho. Para complementar, diz o escritor:
3
Ibidem, p.188.
1...,264,265,266,267,268,269,270,271,272,273 275,276,277,278,279,280,281,282,283,284,...445