SOL-PÔR
O encarnado do céu
desperta oásis
para o nômade de amor
Neste belo poema “Tramonto”
13
, manifestam-se os últimos instantes, nos quais
ainda há resquícios de luminosidade. Nele, há um vermelho irradiante, de carne viva,
talvez pela ambientação de guerra, na qual o escritor vive, sente e universaliza o instante
em imagens poéticas. Todavia, esse “encarnado” tão vivaz do pôr do sol, não mais
representa o sangue da morte e, sim, a cor que dá vida ao deserto, ao nada de uma
guerra, ao vazio existencial. É nesse “encarnado do céu”, miragem do deserto, que o
“nômade” encontra refúgio, lugar da infância perdida, uma beleza nostálgica
presenteada ao poeta e, por isso, “desperta [-lhe] oásis”.
Esse momento crepuscular seria como uma “imagem espaço-temporal” que
representa o “instante suspenso”. Simboliza a morte de um ciclo, contudo, anuncia a
chegada de outro: “um novo espaço e um novo tempo sucederão aos antigos”
(CHEVALIER, 2009, p. 300). Daí a dicotomia começo X fim, pressuposta no
“despertar” e “sol-pôr”, respectivamente.
Nesse sentido, a imagem poética é carregada de tensão, já que emprega unidade
ao plural, carrega em si elementos contrários, sem ser contraditória. “Não se produz o
sem-sentido ou o contra-sentido e sim algo que é indizível, exceto por si mesmo. Outra
vez: o sentido da imagem é a própria imagem”, pois ela possui a sua própria lógica, sua
própria verdade, como disse Octavio Paz
14
.
Assim como o “nômade”, a forte tensão existencial do poema transita rumo ao
Universal. O sentimento de não-lugar, devido ao histórico “sem nação” do eu-poeta
coincide com a instabilidade do soldado trazida pela Primeira Guerra Mundial. E num
grau mais alto, reflete a busca de identidade, de pertencer a algum lugar inerente a
qualquer Ser Humano - (contexto pessoal → contexto histórico → Universal).
13
Versa il 20 maggio 1916// Il carnato del cielo/ sveglia oasi/ al nomande d’amore, em
A Alegria
, p.52.
14
Em seu ensaio “A Imagem”, presente no livro
Signos em Rotação
, pp. 49-50.