Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 150

Concepções básicas de Foucault
Em sua inquietação investigativa, o filósofo francês Michel Foucault percorre
vários campos do conhecimento em tentativas de compreender melhor como o ser
humano se constitui em sujeito e como as suas relações se dão com o ser-saber, o ser-
poder e o ser-si. Conforme o próprio autor assume em entrevista (apud DREYFUS;
RABINOW, 1995, p. 262), sua obra pode ser observada sob uma perspectiva
genealógica que pode abranger três fases:
Primeiro, uma ontologia histórica de nós mesmos em relação à verdade
através da qual nos construímos como
sujeitos de saber
; segundo, uma
ontologia histórica de nós mesmos em relação a um campo de poder através
do qual nos constituímos como
sujeitos de ação sobre os outros
; terceiro,
uma ontologia histórica em relação à ética através da qual nos constituímos
como
agentes morais
. (grifos nossos).
Conforme Revel (2005), no
momento arquelógico
, o autor pesquisa como os
objetos de conhecimento contribuem para construir os saberes desenvolvidos no
surgimento das ciências da vida, da economia e da linguagem. Assim, investigam-se os
modos de objetivação que fazem do ser humano um sujeito. O segundo momento,
denominado
genealógico,
dedica-se à análise das relações entre saber e poder no meio
social por meio da disciplina. Com isso, busca a compreensão de como os sujeitos
objetivados agem uns sobre os outros. E, no terceiro momento, o filósofo observa como
o homem objetivado em sujeito assume uma subjetividade, quer dizer, passa a
subjetivar-se como agente ético a partir de técnicas de si.
Essa divisão dos estudos de Foucault não significa uma alteração acerca de seu
interesse investigativo sobre o sujeito, pois cada nova fase é um redirecionamento do
foco sobre as relações humanas. Ao interessar-se por um novo foco não significa que
haja uma renúncia à fase anterior, porque cada perspectiva que surge agrega-se às
anteriores. Embora todas as fases sejam instigantes, neste artigo, interessa-nos, em
especial, o aspecto genealógico em que o filósofo empenha-se na investigação acerca
das relações de poder.
O projeto genealógico de Foucault (2005) tem o objetivo de “ativar saberes
locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados, contra a instância teórica unitária
que pretendia depurá-los, ordená-los em nome de um conhecimento verdadeiro”.
Foucault usa essas palavras para falar da ciência, mas podemos tomá-las para mostrar
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