dispersão dos milhares de dizeres que cortam a cidade, o discurso traz no seu bojo a
sociedade, a história e a cultura.
Neste artigo, fazemos um estudo da materialidade linguística de pichações
segundo a perspectiva teórica da Análise do Discurso, com foco na postura genealógica
de Foucault. Tomamos como ponto de partida a compreensão foucaultiana de que, no
Ocidente, a governamentalidade apresenta-se sob duas faces: de um lado, o governo
como relação entre sujeitos e, de outro, o governo como relação consigo mesmo
(FOUCAULT , 1995, 2003, 2010).
A alta visibilidade dos dizeres que se projetam de uma lata de tinta
spray
leva-
nos a crer que as práticas disciplinares são exercício de formas específicas de sujeição e
de controle sobre o indivíduo. Isso decorre de um processo de racionalização dos
poderes na Modernidade e das formas de monitoramento das produções escritas, o que
levaria o pichador a atuar num gesto de resistência, pois vivemos numa sociedade de
normatização, mas não normalizada.
O objetivo que nos move é o de observar as relações de ser-poder em pichações
expostas na cidade, para verificar uma conduta que tem por objeto a conduta de outro
indivíduo ou de um grupo.
Entre os trabalhos já realizados nessa temática, destaca-se
A cidade dos
sentidos
de Orlandi (2004) que traz um estudo acerca das pichações como texto
carregado de discursos que se cruzam no espaço da cidade. A análise verifica as
relações entre os sentidos em busca de compreender como os sujeitos se significam.
Nosso trabalho toma essa perspectiva como ponto de partida e investiga como os
dizeres das pichações carregam indícios que nos permitem interpretar as relações de
poder entre os sujeitos discursivos que habitam uma cidade.
Neste artigo, desenvolvemos uma breve trajetória das concepções de poder e
micropoder, conforme as concepções de Foucault, para, em seguida, fazer uma análise,
segundo sua perspectiva. Para isso estamos usando algumas imagens exemplificadoras.
Essas imagens são fotos de pichações e grafites na cidade de Goiânia, Goiás, flagradas
na primeira metade do ano 2011.
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As fotos tiradas pela autora encontram-se nas figuras nº.1,4 e 5 e as fotos das figuras 2 e 3 foram
gentilmente cedidas pelo Prof. MSc. Alexandre Badim da Universidade Federal de Goiás.
