Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 140

Temos buscado estruturar um corpus representativo do modo como diferentes
discursos sobre o trabalho inscrevem um lugar e uma função para a escola. Para tanto, a
pesquisa tem se pautado no trabalho com unidades que Maingueneau (2008) chama de
percursos.
Este autor retoma o conceito de formação discursiva afirmando que, se sua
utilização apresentou certo declínio nos últimos anos mostrando-se vaga e
insuficientemente delimitada, ele ainda conserva um interesse e uma produtividade
significativos. Por conta disso, Maingueneau se propõe a especificá-lo distinguindo dois
grandes tipos de unidades com as quais trabalha a AD: as unidades tópicas e as unidades
não-tópicas. É tal distinção que nos interessa para a fundamentação da metodologia
empregada nesta pesquisa.
As unidades tópicas se dividem em territoriais e transversas. As primeiras, de
modo geral, se caracterizam por serem espaços pré-delineados pelas práticas verbais e
correspondem a tipos de discurso tais como o discurso administrativo ou o discurso
político, por exemplo. As segundas são chamadas de transversas na medida em que
atravessam textos de vários gêneros de discurso, seguindo critérios que podem ser
lingüísticos, funcionais ou comunicacionais.
Já as unidades não-tópicas se caracterizam por serem construídas pelo
pesquisador independentemente de fronteiras pré-estabelecidas, agrupando, no entanto,
enunciados profundamente inscritos na história. Entre elas, Maingueneau aponta as
formações discursivas e os percursos. As formações discursivas seriam úteis para lidar
com unidades como o “discurso racista” ou o “discurso patronal”, cujas fronteiras não
podem ser delimitadas senão pelo próprio pesquisador.
No caso dos percursos, eles dizem respeito ao
...estabelecimento em rede de unidades de diversas ordens (lexicais, proposicionais,
fragmentos de textos) extraídas do interdiscurso, sem procurar construir espaços de
coerências, construir totalidades. O pesquisador pretende, ao contrário, desestruturar as
unidades instituídas, definindo percursos não esperados: a interpretação apóia-se, assim,
sob a atualização de relações insuspeitas no interior do interdiscurso. (Maingueneau,
2008, p. 23)
Partindo desta definição, tomamos como referência sintagmas relativamente
cristalizados como “formação para o trabalho”, “educação para o trabalho” e
“preparação para o trabalho”, assim como possíveis variantes que eles apresentam, e
seguimos os percursos que eles realizam no interior de textos de gêneros diversos,
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