Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 138

aspecto e a formação escolar. Reconhecemos, contudo, a importância de trabalhos que
desenvolvem esta linha de pesquisa. (Clot, 2007)
Nosso estudo está inserido na perspectiva da AD, especificamente na articulação
entre esta disciplina e os trabalhos de Bakhtin. O interesse, aqui, recai sobre o modo
como diferentes discursos dialogando num espaço interdiscursivo inscrevem lugares e
funções para a escola, constituindo-a como objeto de debate. A menção ao dialogismo
bakhtiniano (Bakhtin, 2008) é feita numa acepção ampla, buscando ressaltar que os
enunciados estão sempre postos em relação, remetendo a enunciados anteriores e
exigindo, ao mesmo tempo, uma resposta por parte de um outro ao qual ele se endereça.
Neste sentido, não há um dizer que se realize isolado, fechado à ação do outro.
Um enunciado traz em si o eco de vozes que falaram, em momentos anteriores,
acerca do mesmo objeto ou de objetos similares, numa atitude inevitavelmente ativa,
que se posiciona, aceita ou se opõe ao já dito, revelando contradições. O enunciado traz
inscrita, também, a possibilidade de réplicas, fazendo com que nunca haja um definitivo
e conclusivo ponto final. Nestes termos, o enunciado (seja ele uma palavra, um
sintagma, uma frase ou um texto amplo) é habitado por sentidos historicamente
constituídos, provenientes de outros enunciados, que o marcam e acompanham a cada
acontecimento.
No caso da AD, essa idéia é bastante produtiva na medida em que permite
pensar os discursos não como blocos fechados, idênticos a si mesmos. Com o
desenvolvimento desta disciplina, autores como Courtine (2009) e Authier-Revuz
(1998), na esteira dos trabalhos de Bakhtin, mostraram como os discursos são marcados
por uma heterogeneidade que, mesmo que não esteja explícita, os constitui. Sobre isso,
afirma Maingueneau (1997):
[...] quando se fala da heterogeneidade do discurso não se pretende lamentar uma
carência, mas tomar conhecimento de um funcionamento que representa uma relação
radical de seu ‘interior’ com seu ‘exterior’. As formações discursivas não possuem duas
dimensões – por um lado, sua relação com elas mesmas, por outro, sua relação com o
exterior – mas é preciso pensar, desde o início, a identidade como uma maneira de
organizar a relação com o que se imagina, indevidamente, exterior. (p. 75)
A noção de “interdiscurso” pretende mostrar essa relação constante entre os
discursos, que pode ocorrer num mesmo campo ou em campos distintos. Com a tese do
primado do interdiscurso, a AD pretende mostrar que o princípio que constitui os
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