ambiente sem fronteiras e sem porteiras. Mas qual a finalidade da existência de vozes
que não são acolhidas? De vozes cujas normas linguísticas não são aceitas, dada a
inscrição social do enunciador?
Percebe-se que, para as trabalhadoras, o que importa não é a discussão acerca de
fundamentos jurídicos sobre a existência de fato ou de direito dos sindicatos da
categoria, mas o porquê da existência de tal discussão, o porquê de serem tratadas com
diferença. A coletividade está expressa na condição social do sujeito discursivo, um
sujeito social, descentrado de um
eu
, em que se verificam ecos de diferentes vozes
sociais. Vozes, porém, intransitivas, que não circulam, tidas como não importantes,
visto que não atendem a uma ordem apropriada do discurso.
Considerações finais
Os recortes analisados permitem o resgate da memória de acontecimentos
históricos acerca do escravismo na formação da identidade das trabalhadoras
domésticas. Foi possível observar que os procedimentos de exclusão propostos por
Foucault entram em jogo quando um sujeito que fala formula enunciados inassimiláveis
ou não aceitos dentro de uma determinada comunidade.
O discurso acerca do trabalho doméstico mostra certa resistência às iniciativas
para o aumento da proteção legal, sob o argumento contestável de que a ampliação
geraria reflexos piores à categoria. De outro lado, em contrapartida, há os sujeitos que
atuam como apoio da igualdade de tratamento, em atenção aos valores sociais do
trabalho e à construção de uma sociedade sem quaisquer formas de discriminação.
A legislação atual acerca do trabalho doméstico, ao perpetuar um tratamento
desigual, não identifica justiça e paz, mas faz do Direito, enquanto disciplina, uma
maneira regulamentada de se dizer que a desigualdade e a discriminação são justas. A
discriminação jurídica é, nesse sentido, a expressão de um consenso social, uma
imagem invertida de justiça.
Considerando-se a Internet, especialmente os
sites
interativos, um espaço de
expressão pública, um lugar possível de se estar inserido dentro de um grupo social para
divulgação de ideias, protestos, reivindicações e outras formas de expressão, observa-se
