Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 122

conhecimento e do sujeito do conhecimento e mostra como as práticas sociais podem
engendrar domínios do saber (FOUCAULT, 2005, p. 8 e 23). Seguindo a ideia
nietzscheana, Foucault parte do princípio de que por trás de todo saber, de todo
conhecimento, o que está em jogo é a luta pelo poder (SILVA, 2004, p. 171).
Ainda para Foucault, somente tratando o enunciado como acontecimento
discursivo, como irrupção histórica, ou seja, não como uma proposição ou como algo
dotado de uma gramaticalidade, pode-se “descrever nele [enunciado] e fora dele jogos
de relações” (
ibidem
, p. 162).
Entre empregados e empregadores, por exemplo, há uma relação de poder não
somente econômica, mas também política, uma vez que as pessoas que dirigem outras
pessoas se delegam o direito de dar ordens, de estabelecer regulamentos, de substituir
pessoas. São, pois, detentoras de um poder polivalente. Segundo Foucault (2005, p.
121), trata-se de um poder de extrair dos indivíduos um saber e extrair o saber sobre
indivíduos já controlados pelos diferentes tipos de poderes, controlados por mecanismos
de disciplina impostos.
Na visão foucaultiana, a exploração capitalista realizou-se sem que jamais sua
teoria tivesse sido formulada diretamente num discurso, mas sim revelada por um
discurso histórico ou econômico. De fato, os processos históricos da exploração
exerceram-se sobre a vida das pessoas, sobre seus horários de trabalho, sobre seus
corpos. No entanto, para se fazer o estudo dos efeitos da exploração capitalista, há de se
buscar nos discursos vários, pois não há um universo único do discurso (FOUCAULT,
2005, p. 154).
No caso do trabalho doméstico, há de se estudar o discurso jurídico que valida a
discriminação em razão da suposta natureza diferenciada desse trabalho; o discurso
constitucional que prioriza igualdade e justiça social, ao tempo que exclui o trabalhador
doméstico de uma série de direitos; o discurso cultural que associa o trabalho doméstico
ao escravismo brasileiro; o discurso econômico que protege a classe média de uma
possível majoração das despesas no orçamento familiar; e o discurso social que atribui
ao trabalho doméstico um labor sem prestígio, secundário, exercido por pessoas,
maciçamente mulheres, com baixa ou nula escolaridade etc.
Pode-se, pois, tomar este
corpus
, este conjunto de discursos que se consolidam
no discurso da discriminação jurídica e, através da análise, mostrar a que finalidade
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