Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 112

Por que esses e não outros enunciados? perguntaria Foucault (2007). É preciso
considerar que todo acontecimento discursivo é uma irrupção de uma singularidade,
configurando-se como “nó de uma rede” (p.26), ligado a outros acontecimentos
emaranhados numa dispersão temporal e apreendidos numa pontualidade. O que
“efetivamente” é dito/visto nessas duas peças publicitárias (PP) nos conduz a pensar nas
condições históricas de possibilidades daqueles enunciados (verbais e não verbais), no
fato de o discurso (re)estabelecer enunciados ligados “não apenas a situações que o
provocam, e a consequências por ele ocasionadas, mas, ao mesmo tempo, e segundo
uma modalidade inteiramente diferente, a enunciados que o precedem e o seguem”
(Foucault 2007, p. 32)
.
Tomemos, para fins de análise, alguns detalhes colocados em relevo naquelas
peças. Na primeira (PP1), salta aos olhos a imagem de uma conhecida modelo
brasileira, Anna Hickmann, exibindo a parte de cima de seu corpo. Ela olha para um
possível coadjuvante, fora do nosso plano de visão, fazendo funcionar claramente um
jogo de sedução reforçado pela atitude de provar (oferecer?) uma maçã. Já na segunda
(PP2), vemos a imagem de uma mulher igualmente exibindo a parte de cima de seu
corpo. Nesta, no entanto, a sensualidade cede lugar para um ato sublime, evidenciado na
prática de amamentar um bebê e no texto verbal
o melhor lugar para o seu bebê, ontem
hoje e sempre.
Diante dessas duas imagens de feminino, quero pensar nos efeitos de
verdade (re)estabelecidos prioritariamente pela colocação em discurso da mulher
comendo/oferecendo uma maçã e da mulher com um bebê/filho no colo.
Figura 1
Figura 2
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