Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 102

A partir da observação das imagens, notamos que há uma regularidade que as
unem, isto é, há um gesto que se repete: o homem é disposto de forma inferior e a
mulher de forma superior. Além disso, notamos que essa superioridade feminina é
marcada pelos pés: na série composta para esta análise, o sujeito masculino está sempre
“aos pés” das mulheres. Podemos dizer que essa prática se repetindo na mídia possui
um valor que é historicamente construído. Em outras palavras, essa representação é
regulada por uma ordem semiológica: há uma historicidade que sustenta a produção de
sentidos para essas imagens, funcionado como um princípio semiológico. Desse modo,
vemos que essa disposição masculina não é feita de forma aleatória e intencional na
mídia; ela é produzida através da história.
Observando a historicidade desse gesto, podemos depreender a presença de uma
memória discursiva a qual recupera pré-construídos sobre a relação entre homem e
mulher. É por meio dessa memória discursiva que recuperamos outras imagens já
cristalizadas que possuímos acerca desse tema. É pela memória também que
reconhecemos esse valor, o que já foi dito antes e em outro lugar. Assim, vislumbramos
que as repetições das imagens constroem um princípio semiológico para esse gesto, que
se cristaliza e produz um valor social na contemporaneidade.
Na visão de Courtine (
apud
MILANEZ, 2006), toda imagem se inscreve em uma
cultura visual, que supõe uma memória visual. Para recuperar essa memória da imagem,
o autor propõe que nos perguntemos: quais cenas elas realizam? Quais são os signos
que se pode recuperar numa imagem dada remetendo-nos a um domínio de atualidade
em relação com o domínio de memória? Qual estrutura elas mostram? É preciso buscar
responder essas questões, uma vez que há uma historicidade inscrita nos gestos capaz de
edificar uma regularidade (FOUCAULT, 2004).
Para responder a essas questões, temos que trazer para a discussão os fatos que
essas imagens são capazes de rememorar. Em Bonácio (2009), pudemos perceber que a
mulher durante muito tempo foi associado à fraqueza, à docilidade e foi criada para ser
dócil, obediente e submissa aos homens (primeiro ao pai e depois ao marido), sendo
submetida às forças da tradição machista e patriarcal da qual ela estava exposta. Esses
discursos constituíam as mulheres e eram socialmente reproduzidos por várias
instâncias sociais, como a igreja, a família, o mercado de trabalho. Assim:
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