discurso, para ser materializado, deve estar autorizado. Como essas imagens funcionam
como discursos imagéticos, foi preciso a “autorização” sócio-histórica para que elas
pudessem circulam sem causar estranhamento aos sujeitos. Tais imagens, antes dessas
lutas femininas da década de 1960, não fariam sentido, porque não eram vistas como
verdades.
De acordo com Foucault (2006), o discurso para ser distribuído socialmente,
passa antes por um processo de seleção, interdição, sendo autorizado por sistemas
sociais de controle e distribuição. E assim como há o controle do dizer, isto é, uma
ordem para o que deve ou não ser dito, há também um controle do olhar: nem tudo pode
ser representado imageticamente, é preciso também que as imagens se submetam a essa
ordem do olhar, que controla essas representações. Desse modo, vemos que há
instituições que regulamentam o que produzir nessa ordem do olhar. Isso porque essas
imagens não são construídas a partir de intenções individuais que o sujeito faz da
relação entre o homem e a mulher; elas são edificadas a partir do momento sócio-
histórico que permitiu que se olhasse para o homem e para a mulher dessa forma. Dito
de outro modo, assim como o dizer sofre coerções, interdições, a imagem também o
sofre, há o controle do que pode ou não ser mostrado, e isso é determinado pelo
momento histórico, isto é, olhamos hoje o homem e a mulher da forma que olhamos,
por conta da lente histórica que nos constitui. A história não está marginalizada nessas
imagens, ela é constitutiva do sentido.
Para depreender essa interpretação, não devemos olhar a história imediata, mas
ver os acontecimentos históricos que ocorreram e trouxeram essas mudanças. Essa
ordem do olhar pode ser vista como cada época, cada momento histórico fez uma
semiologia de como descrever o homem e a mulher. É olhando para o passado que
conseguimos compreender o presente. Realizando esse gesto, ponderamos que a relação
entre o homem e a mulher sofreu deslocamentos, isto é, mudou ao longo da história.
Isso foi sendo construído paulatinamente, de modo que hoje não nos causa
estranhamento ver um homem submisso às mulheres; é como se o nosso olhar sobre
esses fatos tivesse sido domesticado. Veja que em séculos passados, essas imagens não
eram aceitas, por conta do momento histórico que se vivia, mas como a sociedade
mudou a forma de olhar essa relação entre o homem e a mulher, nós passamos a
