Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 103

Essas atribuições sociais dadas a homens e mulheres foram mantidas durante séculos e
só começaram a entrar em discussão mais fervorosamente com os movimentos sociais,
como os movimentos feministas em meados do séc. XX, quando as mulheres
começaram a lutar por igualdade entre os sexos. No campo profissional, por exemplo, a
dominação masculina começa a ser abalada, deixando de ser algo evidente para se
tornar discutível e posto à prova. Prova disso é o desempenho das mulheres em setores
tradicionalmente masculinos. (BONÁCIO, 2009, p. 24)
A partir disso, o homem deve lidar com uma nova mulher, a qual não aceita mais ser
submissa a ele e que repudia a imagem de sexo frágil. Nesse sentido, podemos dizer que
a cena realizada nas figuras em questão é sobre o momento histórico atual: o homem
por ter que suportar a nova mulher, está sofrendo ao perder seu posto de superior.
É possível depreender também que essa imagem de homem inferior e mulher
superior dialoga com outros enunciados verbais e imagéticos, há uma atualização de
uma memória visual em que vemos que a mulher era inferior e que o homem era o ser
supremo, o qual comandava vida feminina em todos os aspectos. Há a retomada desses
traços de um homem superior, mas isso foi transferido para a mulher, de modo que os
papéis se inverteram: se antes as mulheres eram submissas aos homens, hoje são eles
que devem estar “aos seus pés” como as figuras mostradas sugerem
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. Desse modo,
observamos que a estrutura que essas imagens repetem, isto é, esse gesto que é
recorrente, está baseado nas questões sociais descritas. Assim essas imagens funcionam
como espelhos que refletem a realidade e o momento histórico que está imbricado nessa
produção identitária. Se não remetêssemos essas imagens ao histórico, não
conseguiríamos depreender sentidos. Em outras palavras, se a mulher hoje pode ser
mostrada de forma superior e o homem de forma inferior, é porque o momento
histórico-social permitiu que isso circulasse. Essa superioridade foi associada à mulher,
a partir do momento em que ela lutou por direitos iguais e se libertou das forças da
tradição machista e patriarcal. Nesse sentido, temos uma superioridade permitida para o
sujeito feminino.
Para compreender essa “permissão” da qual estamos falando, temos que
convocar aquilo que Foucault (2006) chamou de a ordem do discurso. Para o autor, o
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Circula em conversas do cotidiano, no senso comum que, quando alguém está a seus pés, esta pessoa
foi dominada por você, submetendo-se as suas ordens. Ao se repetir essa estrutura “homem aos pés das
mulheres”, reforça-se a ideia de que a mulher está gozando de uma superioridade conquistada e isto está
marcado metonimicamente pelos pés femininos. Essa superioridade é marcada, sobretudo, pelo salto alto.
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