Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 156

Figura 4: Pedido de socorro para a rua.
Figura 5: Condomínio resiste ao pichador.
Na dispersão das vozes que se comunicam anonimamente, há alguns que se
preocupam com a imagem que as ruas enunciam. Há pichadores que divulgam a ideia
de que é preciso “salvar a rua” (figura 4), como se houvesse um perigo iminente ao qual
se deve atentar. Seriam os discursos em contraposição? Essa pequena voz num tapume
comunica-se com outras em relação aos problemas urbanos. Dialogando com as
pichações, vamos encontrar discursos que se opõem às ações das latas de
spray
. Uma
placa que parece um aviso traz um enunciado pleno de promessa e ameaça para impedir
a ação pichatória. Nesse caso, discursivamente o texto precisa estar assinado para dar
credibilidade ao que se enuncia. “Senhor pixador, a cada mês que este muro permanecer
limpo o condomínio (...) doará uma cesta básica para uma instituição carente da sua
cidade. Cond. Resid. Vivaldi.” (figura 5). Pelo aspecto intacto do muro pode-se
concluir que o enunciado é eficiente. Nesse jogo de micropoderes quase podemos ouvir
a cidade “falar” acerca de suas disparidades, regras e resistências.
Desse modo percebemos que esse sujeito pichador tem uma preocupação social
com os menos favorecidos e isso é suficiente para mostrar-nos que também há
disciplina a ser respeitada entre os pichadores. Os embates entre a ordem urbana e os
pichadores têm promovido um diálogo e abrem-se permissões para sua divulgação em
muros de marginais, ferrovias ou viadutos. Há inclusive uma disciplina ética entre os
pichadores que respeitam os grafites.
Considerações Finais
Ao observarmos algumas pichações verificamos, conforme a concepção de
poder de Foucault, que o poder não está localizado. O poder aparece disperso no espaço
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