Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 151

que a forma como as pichações urbanas são repudiadas, enquadram-se nessa tentativa
de impor um saber historicizado e impedir que novas vozes surjam em contraposição a
uma sociedade que se estabiliza.
Em sua acepção mais comum, o poder exercido entre os sujeitos é
compreendido como um domínio ou controle sobre outro indivíduo ou, então, como
uma autoridade capaz de tomar decisões sobre os outros humanos embasados em
instituições. Foucault (1995) começa por demolir essa perspectiva por meio de uma
série de negativas: o poder não é algo simples com alguém que manda e é obedecido;
não é uma questão de força ou superioridade hierárquica exercida por uma autoridade
sobre os demais. Além disso, o poder não é um lugar social de dominação, não é uma
violência desencadeada sobre seres passivos e também não é um bem que se possua.
Mais que isso, o poder não é algo pacífico, mas o fruto de uma
tensão
exercida entre os
sujeitos. Não há passividade nas relações de poder, porque ao mesmo tempo em que se
faz uma imposição, há uma reação contrária, uma resistência.
Para Foucault (1995), o poder é um modo de ação sobre a ação de outro ser
humano livre, quer dizer que cada sujeito é dotado de liberdade para aceitar ou não as
ordens que normatizam a sociedade e afrontá-las. Desse modo, cada um de nós tem uma
série de possibilidades de conduta diante de si, por isso a liberdade abre a oportunidade
de uma reação contrária à ordem, numa tensão que está sempre presente nas relações de
poder. Assim o poder precisa reinventar constantemente suas técnicas para funcionar.
Com isso, temos sempre um constante enfrentamento entre quem quer exercer o poder e
aqueles que devem ou deveriam cumprir as regras.
De tal modo o poder está sempre em relação de confronto, num jogo que
envolve a resistência, pois
não há relação de poder sem resistência, sem escapatória ou fuga, sem
inversão eventual; toda relação de poder implica, então pelo menos de modo
virtual, uma estratégia de luta, sem que para tanto venham a se sobrepor, a
perder sua especificidade e finalmente a se confundir. Elas constituem
reciprocamente uma espécie de limite permanente, de ponto de inversão
possível. Uma relação de confronto encontra seu termo, seu momento final (e
a vitória de um dos dois adversários) quando o jogo das reações antagônicas
é substituído por mecanismos estáveis... (FOUCAULT, 1995, p. 248).
Então entendemos que o poder se constitui numa fronteira em que o dominado
enfrenta o dominador num jogo de tensões permanentes para sobrepujar a estratégia do
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