Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 154

A partir dos anos 80 do século XX, com o retorno do processo democrático, as
pichações começam a se diversificar e agregam outros objetivos. Os grupos querem
ocupar os espaços, mostrar sua existência, mas mantém-se no anonimato. Os dizeres
passam a se apresentar de modo mais cifrado para que só os conhecedores possam
decodificar as mensagens. O propósito passa a ser uma comunicação entre gangues para
demarcar território, demonstrar perícia ao pichar em locais desafiadores ou, até mesmo,
desafiar o controle urbano. Desenvolve-se uma fúria pichadora que não deixa escapar
espaços onde se possa escrever: muros, portões, portas de lojas, prédios e até
monumentos públicos. O discurso urbano diante disso é de perplexidade e revolta por
visualizarem uma cidade “emporcalhada” (figura 1).
A partir da década de 1990, começam a aparecer os grafites,
uma forma de
comunicação mais figurativa e colorida que passa a ter uma relativa aceitação. Os
próprios pichadores costumam respeitar os grafites como arte de rua. A facilidade maior
em compreender o que se expressa dá a essas imagens um
status
artístico e os
grafiteiros recebem um tratamento diferenciado. Em vários pontos do Brasil, hoje, há
oficinas públicas para ensinar as estratégias da grafitagem. E como essa prática popular
se desenvolve em torno de todo o mundo, no mês de abril de 2011, o museu de Arte
Contemporânea de Los Angeles apresenta uma exposição interna de mais de cinquenta
grafiteiros dos vários continentes. Se surge a aceitação, já há normas se inserindo na
padronização da grafitagem, toda exposição de arte, por mais aberta que seja tem
normas específicas.
O aparecimento dos grafites não decreta o fim das pichações que continuam
invadindo a paisagem urbana. Além disso, o uso da internet vem permitindo a
visibilidade que muito se procurou por meio das pichações. Vemos que a intensidade
pichadora diminuiu, mas não desapareceu. As mensagens cifradas ainda sobrevivem
com menor intensidade, mas estão à vista em quase todas as cidades do Brasil. Algumas
vezes, os dizeres codificados envolvem-se em cores rebuscadas numa transição para o
grafite (figura 2).
Neste final da primeira década do século XXI, aparecem pichações legíveis a
todos os leitores de português, em muitas oportunidades numa combinação com as
imagens grafitadas. São esses textos de autores anônimos que nos interessam neste
estudo.
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