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americanos sofriam de desvios patológicos que os fazia degenerados (SCHWARCZ,
1993, p. 44). Não faltaram estudos legitimados pela ciência da época para autenticar
tal leitura, como foi o caso das pesquisas do também naturalista francês Georges
Cuvier (1769/1832) (DE LUCA, 1999, p. 137).
No decorrer da primeira metade do século XIX, período em que Fleiuss viveu e
frequentou as universidades europeias, os teóricos raciais decidiam-se em dois
grupos: os monogenistas, que acreditavam em uma única origem para a espécie
humana, o que assegurava uma identidade comum a todos os homens, e os
poligenistas, muito influentes em meados do século, que asseveravam a existência de
diferentes raças, uma vez que cada uma teria se originado não de um ancestral
comum, mas por processos separados e autônomos (SCHWARCZ, 1993, p. 48).
Blumenbach elaborou a conhecida teoria da divisão da humanidade em cinco partes,
Camper introduziu novos métodos de comparação baseados em medidas e os
instrumentos criados por Broca – craniógrafo, craniômetro e cefalógrafo – que eram
usados em todo o mundo para confirmar a superioridade racial europeia (DE LUCA,
1999, p. 138-139).
Os comportamentos humanos foram, cada vez mais, encarados como
resultado de leis biológicas e naturais. Vários métodos avaliativos surgiram para medir
a capacidade humana por meio do cérebro, como a frenologia, a antropometria e a
craniologia, além das teorias criminais de Cesare Lombroso (1835/1909). No momento
em que Henrique Fleiuss desenhava o Dr. Semana com uma cabeça enorme, a
frenologia media a genialidade pelas dimensões do cérebro, a exemplo do que ocorria
com o tamanho do nariz, a forma dos lóbulos das orelhas, enfim medidas
antropométricas, encaradas como índice de raças superiores ou inferiores:
A frenologia alcança tal visibilidade que acaba sendo amplamente
utilizada. Inventam-se jogos, proliferam cursos, criam-se museus,
assim como tomam força novos modelos artísticos como a
caricatura
, que encontra na frenologia vasta inspiração
(SCHWARCZ, 1993, p. 49, grifo nosso).
A caricatura tem se revelado um objeto privilegiado para compreender o
Segundo Reinado e o início da República, pelo seu grande poder de comunicação e
capacidade de representar as particularidades culturais, sociais e intelectuais daquela
sociedade, o que inclui as visões e atribuições políticas, sociais e emocionais que os
caricaturistas, pertencentes à elite branca, tinham a respeito do negro escravo ou