A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 18

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hierárquica e com as práticas de paternalismo e escravidão: “amigo da casa imperial,
que sempre prestigiou aos governos em geral, Fleiuss grande desenhista e litógrafo,
não era humorista nem crítico” (SODRÉ, 1977, p. 205).
Com dezesseis anos de publicação (1860 a 1876), a
Semana Ilustrada
foi o
primeiro impresso a circular na Corte com formato que se transformou padrão para a
maioria dos periódicos humorísticos das três décadas seguintes. A revista tinha oito
páginas, impressas em uma só folha, por processo litográfico de um lado e tipográfico
do outro, era dobrada duas vezes e refilada, resultando caderno de tamanho in-quarto
(28 x 22 cm), com as imagens nas páginas 1, 4, 5, 8 e texto nas 2, 3, 6 e 7
(CARDOSO, 2011, p. 27). Note-se que, a despeito de ter as similares francesas e
inglesas como inspiração, aproximava-se do estilo das revistas germânicas das
décadas de 1830 e 1840, justamente os anos de formação do editor e caricaturista
(NERY, 2011b, p. 65
).
Além de ter criado o Dr. Semana e o Moleque, protagonistas
oficiais das caricaturas de sua revista, Fleiuss ainda foi o responsável pelo índio Brasil,
escolha nada inocente, uma vez que este era um símbolo reverenciado pelo
romantismo indianista em voga (TELLES, 2010, p. 316).
O hebdomadário teve a colaboração de muitos ilustradores, como H. Aranha,
Aristides Seelinger, Ernesto Augusto de Sousa e Silva (o Flumen Júnior) e de Aurélio
de Figueiredo, além de um rol de escritores e jornalistas, dentre os quais, Machado de
Assis, que usava constantemente o pseudônimo de Dr. Semana, Pinheiro Guimarães,
Joaquim Manuel de Macedo e Ernesto Cibrão (GUIMARÃES, L., 2006, p. 92). Na parte
inferior da capa havia, geralmente, imagem alusiva ao principal assunto tratado na
edição, enquanto que, na parte superior, via-se a ilustração do busto do Dr. Semana,
de piscadela e sorriso maroto nos lábios, portando um exemplar da revista na mão
direita, enquanto na outra trazia um
clichê
(imagem sobre um vidro plaino pequeno) a
ser projetado numa lanterna mágica.
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Em volta do personagem e de sua lanterna,
alinhavam-se pessoas em situações pouco abonadoras, como as do esquerdo, um
casal de namorados cujo rapaz parece vestir-se como um padre. Esse modelo de
capa, que não foi modificado ao longo dos dezesseis anos da publicação, era
acompanhado da máxima
Ridendo castigat mores
, postada no meio da lanterna
mágica, importante para se entender o estilo de humor da revista. Lembrando que nos
anos 1830 o jornal
La Caricature
(1830/1843) já trazia o dilema “Castigat ridendo
mores” (SALGUEIRO, 2003
,
p. 15), castigar os costumes rindo, ditado e lema do
teatro cômico que, exprimia a função moralizadora da comedia e da sátira.
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Aparelho ótico de projeção de imagens, a lanterna mágica ganhou notoriedade no século
XIX, transformando-se em um símbolo da modernidade e da imprensa ilustrada.
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