A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 14

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H
UMOR E ESCRAVIDÃO NA REVISTA
S
EMANA ILUSTRADA
(1860/1876)
Renan Rivaben Pereira
1
O século XIX foi marcado pela industrialização da imagem, graças às
evoluções técnicas expressas no processo litográfico, que permitiu o crescimento da
produção de literatura ilustrada, dos livros de bolso, então uma novidade, dos
romances de folhetim, mas também das gravuras avulsas, dos anúncios e cartazes,
que conferiram outro estatuto à comunicação visual e à publicidade, presentes no
cotidiano das cidades.
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Entre 1830 e 1880, os termos “ilustrar”, “ilustração” e
“ilustrador” expandiram-se pelo globo e a prática de ilustrar tornou-se uma profissão
especializada (KAENEL, 1996 apud TELLES, 2010, p. 30).
Nesse processo de “dessacralização da imagem” (SALGUEIRO, 2003, p. 35), o
humor foi um ingrediente importante. Para muitos, o caricaturista Honoré Daumier
(1808/1879), com seu personagem de conduta pouco ortodoxa, Robert Macaire, foi um
dos grandes precursores do encontro entre imprensa e humor. Valendo-se de um meio
de comunicação que atingia grandes contingentes, Daumier integrou arte e política,
fornecendo, assim, oportunidades para refletir sobre comportamentos sociais
(ARGAN, 1998, p. 64).
Denominado de “século Macaire” (SALGUEIRO, 2003, p. 114), o período foi
marcado pela circulação internacional de textos, imagens, artistas e jornalistas que se
valiam do cômico e da caricatura (TELLES, 2010
,
p. 46). A difusão de um estilo de
ilustração, independente das fronteiras nacionais, assim como de gêneros jornalísticos
e literários, evidência a representatividade que a informação, elemento essencial do
mundo urbano, ganhou nas folhas da imprensa, agora ilustrada.
O aparecimento desse gênero da comunicação impressa em terras brasileiras
vinculou-se ao surgimento de empreendimentos editoriais e ateliês que detinham as
técnicas de impressão e reprodução, com destaque para a litografia, que despendia
menos tempo, era menos custosa e demandava mão de obra com menor qualificação
do que a xilogravura, aspecto importante num país escravista. Já na primeira metade
do século, surgiram vários espaços de produção e reprodução de imagens gravadas,
além disso não é fruto do acaso que vários desses proprietários fossem estrangeiros:
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Mestrando – Programa de Pós-Graduação em História – Faculdade de Ciências e Letras de
Assis – Unesp – Univ. Estadual Paulista, Campus de Assis – Av. Dom Antonio, 2100, CEP:
19806-900, Assis, São Paulo – Brasil. Bolsista Fapesp. E-mail:
2
Ver sobre: (GUIMARÃES, V., 2012; SALGUEIRO, 2003).
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