A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 20

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2011a
,
p. 179). Nery destacou a singularidade da Semana Ilustrada, enquanto revista
humorística que se situava a meio caminho entre conservar ou modernizar: ao mesmo
tempo em que a revista buscava acostumar o leitor à transformação, também pregava
a manutenção do tradicionalismo, então em vias de transformação. Sua crítica situava-
se “entre o riso de Molière e a lanterna de Diógenes”, longe, portanto, de um humor
violento ou de um programa moralizante rígido e avesso à mudança (NERY, 2011a
,
p.
187).
Depois de dezesseis anos de
Semana Ilustrada
, Henrique Fleiuss lançou novo
periódico, bem diferente do primeiro, mas que não chegou a desfrutar do mesmo
sucesso. A
Ilustração brasileira
(1876/1878) pretendia impressionar seu leitor, com
grandes ilustrações, paisagens do mundo e do Brasil, criadas pelo homem ou pela
natureza, com padrão de qualidade e designer inspirados nas grandes revistas
europeias.
16
Apesar de dois anos de publicação, o periódico encontrou grandes
barreiras para circular, devido ao alto custo de produção e à dificuldade de aqui se
produzirem gravuras pelo método xilográfico. Dois anos antes de falecer, ainda tentou
reviver seu maior triunfo com
A Nova Semana Ilustrada
(1880) sem obter êxito
(GUIMARÃES, L., 2006, p. 96).
Henrique Fleiuss foi rotulado de monarquista e subserviente a uma arte que
seguia os propósitos do poder e suas práticas retrogradas, como a escravidão, o que o
tornou alvo de muitas críticas da historiografia da década de 1960. Merece destaque a
comparação com o caricaturista Ângelo Agostini, reverenciado como aquele que
contribuiu, com sua arte, para o fim do regime monárquico, da escravidão e para a
implantação da República. Tal relação foi construída a partir de uma visão dicotômica,
muito própria do momento, segundo a qual Agostini seria o revolucionário, com seu
anticlericalismo e abolicionismo, enquanto, Fleiuss, o reacionário monarquista,
escravista e clerical.
Herman Lima, no seu extenso trabalho sobre a história da caricatura brasileira
,
publicado no início dos anos 1960, afirmou, muitas vezes,
o inegável talento do traço
francês e combativo de Agostini, contraposto ao traço limitado e conciliador do
prussiano.
17
Nelson Werneck Sodré, na mesma linha, exaltou o caráter inovador e
pioneiro da
Semana Ilustrada
, porém o prussiano foi caracterizado como caricaturista
de menor talento e cuja arte não provocava desconfortos ao poder (SODRÉ, 1999, p.
206)
16
Sobre a
Ilustração Brasileira
, ver: (AZEVEDO, S., 2006).
17
Um exemplo da máxima encontra-se no quarto capítulo: “Fleiuss dedicou-se também, com
freqüência, a satirizar o ditador paraguaio, no que era acompanhado, nas páginas da
Vida
Fluminense
, pelo lápis inegavelmente muito mais ágil e corrosivo de Angelo Agostini.” (LIMA,
1963, p. 234).
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