A escrita historiográfica, seus protocolos e fontes - page 33

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erudição e do pensamento deveria, portanto, ser o caráter de nossa época” (RENAN,
1848, p. 288, tradução nossa)
vi
.
As bordas deste texto trazem mais questões importantes. Por meio delas,
sabe-se que o artigo de Renan é um dentre outros publicados na parte não oficial do
journal general de l’instruction publique et des cultes
. Logo, ao retornar algumas
páginas, há a parte oficial, na qual se pode ler dentre outras coisas decretos e
resultados dos concursos para o ensino. Aliás, alguns meses depois deste texto a
respeito da história da filologia, neste mesmo periódico, era publicado um artigo sobre
o concurso de
agrégation
em filosofia de 1848. Elogiado pela “
finesse et la variété
d’aperçus”
, o nome de Renan estava entre os aprovados
vii
. Mais tarde, no presente
texto, ter-se-á uma noção do contato entre o Ministério da Instrução Publica da França
e os postos assumidos por Renan.
Aproveitando a deixa com relação ao trato com periódicos
viii
, pode-se citar um
artigo de 1863 intitulado “Les sciences de la nature et les sciences historiques” que
marca o recorte final da pesquisa em foco (RENAN, 1863a, p. 761-774).
Na verdade, não apenas um artigo, uma “carta-artigo” de 14 páginas, publicada
na
Revue des Deux Mondes
e direcionada ao químico “M. Marcelin Berthelot”. O
diálogo pôde se estabelecer. A “M. Ernest Renan” foi dirigido, no mesmo periódico, um
“artigo” de resposta, intitulado “La science idéale et la science positive” (BERTHELOT,
1863, p. 193-241). Neste aspecto podem-se articular outras questões. Quais as
possibilidades de leitura desta fonte publicada em meio a artigos com estrutura textual
próxima a das epístolas? Para incrementar, sabendo-se do perfil dos autores e da
temática central destes dois “artigos”, qual seria a implicação destes textos para a
delimitação das fronteiras entre as ciências históricas e as ciências naturais no século
XIX?
Até aqui se leu apenas o título da folha de rosto de um livro que reúne para
durar. Dever-se-ia caminhar agora para o nome de Ernest Renan. Mas se aprende
com Michel de Certeau a inverter esta leitura e ir à linha debaixo primeiramente:
“membre de l’Institut” e da “Académie des Inscriptions et Belles-Lettres” (CERTEAU,
2000. p. 65-119).
Na leitura do não escrito é preciso destacar que sob a autoridade desta
Académie
existe a
Societé Asiatique
, fundada em 1822. Interessantemente, neste
aspecto, a trajetória de Renan se cruza com a história da
Académie
, da
Sociéte
e da
instituição que Edward Said denominou
Orientalismo
ix.
Orientada por uma prática histórica erudita e documental, a
Académie des
Inscriptions et Belles-Lettres
promovia, desde 1822, um prêmio destinado ao estudo
de línguas “asiáticas”: o prêmio
Volney
. Na edição de 1847, Renan, um ex-seminarista
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