monologism
em que também define o discurso monológico como uma "forma de
apropriação dialógica do contrário, que substitui outras experiências pela sua própria"
(1993).
Enquanto princípio de representação, esta cultura ideológica plena apresenta e
admite apenas uma ideia da verdade. Este horizonte monológico representa o outro
como um objeto sem voz, isolando e fragmentando o sujeito enquanto objeto reificado.
Não leva em consideração a multiplicidade de significados de palavras e expressões,
nem a plurivocidade ou heteroglossia em que estamos mergulhados. Antes, procura
unificar os significados e as vozes, na tentativa de produzir uma palavra final com a
intenção de limitar ou mesmo eliminar interpretações, objetivando reduzir diferenças.
Esse mundo da monologia apela para uma política de percepção da realidade em que o
tempo e o espaço são também estáticos e unilineares. Bakhtin utiliza a metáfora da
consciência ptolomaica de mundo para analisar como isso ocorre. No ensaio
Da pré-
história ao discurso romanesco
, em que ele analisa o nascimento do romance, aborda
a ideia grega acerca da formação unitária da linguagem – o mito de uma só linguagem -,
baseado em duas suposições: a primeira, que entendia a língua nacional como a única
linguagem completa, ‘real’. Os gregos sabiam que havia muitas outras línguas nacionais
no mundo, mas faziam uma distinção entre a língua deles e todas as demais,
consideradas como inferiores, bárbaras. A segunda, o mito da monoglossia, supõe uma
linguagem una, homogênea, sem diferença entre os vários discursos e dialetos que
constituem a língua nacional. A primeira suposição é surda à poliglossia ou às
diferenças de interlinguagens; a segunda, recusa-se a ouvir a heteroglossia ou as
diferenças de intralinguagens (Bakhtin, 1998, p. 363).
As duas pressuposições por trás de uma linguagem mítica unificada foram
desconstruídas pelo poder do riso, analisado por Bakthin nos escritos sobre o contexto
de Rabelais, e pela interação com outras línguas nacionais, cada uma das quais
pressupunha sua própria unidade e singularidade. O riso, por meio da sátira e da
paródia, punha em questão a santidade da linguagem unificada. E à medida que o
contato com outras línguas se tornou mais comum e continuado, a ilusão do privilégio
absoluto de qualquer linguagem isolada ficou desgastada. O mito da linguagem unitária
foi sendo desmontado pelo plurilinguismo: "No processo do aclaramento recíproco das
línguas e culturas, a língua tornou-se algo inteiramente diferente, modificou-se na sua
própria qualidade: em lugar do mundo linguístico ptolomaico, único e fechado, surge o