Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 573

O problema é que, ao descer à praça pública ocasionalmente, o escritor pode
isolar-se em uma “Torre de Marfim”. Mário de Andrade manifestará suas inquietações a
esse respeito em 1941, em ensaio publicado no primeiro número da revista
Clima
,
denominado “Elegia de abril”. Nesse texto, citado por Regina Campos (1996), o escritor
demonstra sua preocupação a respeito dos jovens intelectuais conformistas: “O
intelectual não pode mais ser um abstencionista; e não é abstencionismo que proclamo,
nem mesmo quando aspiro ao revigoramento novo do « mito » da verdade absoluta”
(p.150). Entretanto, como Julien Benda, não aceita a filiação a um partido político, que
representaria para o intelectual um “conformismo de partido” e o levaria a se tornar um
“político de ação”. Ao mesmo tempo, contradiz o autor de
La Trahison des clercs
ao
afirmar que o escritor não deve abandonar os valores eternos, “amor, amizade, Deus, a
natureza”, mas não pode “cuidar desses valores apenas”, pois tal postura relevaria um
“abstencionismo desonesto e desonroso como qualquer outro”. E conclui: “De resto, a
forma política da sociedade é um valor eterno também” (IDEM, p. 154)
Para Heloísa Pontes (1998), a postura de Mário de Andrade se explica em razão
do conturbado momento político que o Brasil vivia na época de publicação da revista
Clima: uma parcela da intelectualidade “que não era nem inconsciente nem praticante
de nenhum tipo de neutralidade” se integrou “nos quadros do regime político de
Vargas” (p. 67)
Vê-se que além do diálogo estabelecido com a obra francesa, Mário estabelece
um diálogo com o momento histórico que o país estava atravessando, tentando alertar
aos artistas que era o momento exato para despertar no povo brasileiro uma consciência
nacional. Entretanto, os artistas estavam mais preocupados com os temas do novo
“modernismo” e trocaram uma “arte engajada” pela “arte pela arte”.
Apesar de dialogar com a cultura francesa, o cronista não deixa de valorizar a
cultura nacional, adaptando a teoria de Julien Benda ao seu estilo e às características e
necessidades da literatura brasileira da época
.  
Bibliografia:
ANDRADE, Mário.
Feuilles de route (Blaise Cendrars).
Estética nº3
, Rio de Janeiro,
jan-março de 1925.
1...,563,564,565,566,567,568,569,570,571,572 574,575,576,577,578,579,580,581,582,583,...1290
Powered by FlippingBook