Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 583

A SUBMISSÃO AO INTERDISCURSO E A LIBERDADE DE AÇÃO: UM
PARADOXO
?
Estudar o discurso em si mesmo, ignorar a sua
orientação externa é algo tão absurdo como estudar o
sofrimento psíquico fora da realidade a que está dirigido
e pela qual ele é determinado. (
BAKHTIN,1998, p. 99)
Não foi nossa pretensão, com esse estudo, mostrar que os dirigentes
institucionais estejam maquiavelicamente empenhados em esconder o grave problema
de desemprego que assola o país (17% da população economicamente ativa está fora do
mercado formal de trabalho) e nem a falta de investimento sério e responsável do poder
público na educação, quando propõem que "o aluno deve perceber a necessidade de
construir seu próprio
caminho rumo ao mercado de trabalho" ( Januário Neto, 2000, p.
6). Se agem como ‘condicionadores’ ou ‘determinadores’ daqueles a quem se dirigem,
não é pelo desejo de ‘determiná-los’ ou ‘condicioná-los’ e sim por serem eles próprios,
dirigentes, ‘determinados’, ‘condicionados’, a um grau que, muitas vezes (na maioria
delas) não percebem. Mas somos todos condicionados: estamos todos sob o efeito do
duplo esquecimento a que nos referimos acima.
Assim, cada dirigente, fazendo espontaneamente o que quer (ou não fazendo)
concorda espontaneamente com todos os demais. É o que Pêcheux (1997) vai chamar de
forma-sujeito, ou posição sujeito: é um sujeito ao mesmo tempo livre e submisso. Ele é
capaz de uma liberdade sem limites e uma submissão sem falhas: pode tudo dizer,
contanto que se submeta à língua para dizê-lo. Essa é a base do assujeitamento, ou, no
dizer de Foucault, a impossibilidade de o homem ultrapassar sua própria condição, qual
seja, a de ter uma posição ambígua de ser, ao mesmo tempo, objeto de saber e sujeito
que conhece. Soberano submisso, espectador olhado, como na tela de Velásquez,
As
Meninas
, conforme analisa Foucault no capítulo 1 de
As palavras e as coisas
. Essa
condição é a que vai explicar por que os discursos falam em nós, sem que possamos
controlar plenamente esse processo (1999, pp 0 3 a 21).
Levando em conta o assujeitamento provocado pela inserção do ser humano no
mundo da linguagem, o que constatamos é que os governantes brasileiros não precisam
ditar aos dirigentes da Instituição, sejam eles de ‘direita’ ou de ‘esquerda’, o que eles
devem dizer ou mostrar. Não precisam violentar suas consciências ou transformá-los
em marionetes. Para garantir o jogo que permite ser a exclusão do mercado de trabalho
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