Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 985

12
um anjo aos espaços do Além-túmulo. O objetivo é que após a sua jornada o nobre
servisse de exemplo aos demais grupos sociais. Túndalo deveria voltar de sua jornada e
relatar aos outros a sua experiência para ajudá-los na salvação. Também reforçando o
aspecto pedagógico, a cada local por onde passam o anjo explica a Túndalo por qual
pecado a punição foi sofrida ou por que motivo alguém está em alegria num
determinado local do Paraíso. Pretende mostrar aos vivos os castigos e recompensas que
esperam os cristãos que serão julgados segundo os atos praticados na terra. O bom
cristão não precisa temer o Inferno, porque, se agir corretamente, será levado
diretamente ao Paraíso. (Cf. ZIERER, 2002). O cavaleiro pecador Túndalo percorre os
três espaços do Além: Purgatório, Inferno e Paraíso e só podia se salvo se realizasse
essa viagem iniciática. Ninguém se salva se não realizar uma viagem deste tipo, porque
o homem medieval se via como um viajante (
homo viator
) eterno entre dois mundos: o
lugar de todas as tentações, a terra, e o Paraíso, Reino de Deus. A iconografia medieval
ilustrou bem esta pedagogia religiosa do castigo dos peados com
Os Sete Pecados
Capitais
, de Bosch e
O Juízo Final
, de Fra Angelico.
Escrita por volta de 1148 em latim ou gaélico, n
arrativa de origem cisterciense
escrita pelo monge irlandês Marcos
para a abadessa Gertudes, de quem era confessor.
Foi
traduzida em português, por volta do século XV, por monges do mosteiro de
Alcobaça,
o que mostra a sua importância ainda no final da Idade Média. A viagem
imaginária vai surgir fundamentalmente como uma interrogação sobre o universo, como
uma tentativa de apropriação de ideais e palavras que levam à reconstrução verbal de
um espaço mítico, de um espaço de substituição relativamente a um mundo tido por
conhecido e comum ao leitor e ao autor. Pelo conjunto de conhecimentos na base dos
quais se constrói, propõe um verdadeiro itinerário intelectual, constituindo-se como um
percurso iniciático. (Cf. ZIERER, 2004)
Miguel Real, autor de
A Visão de Túndalo por Eça de Queirós,
é especialista em
Cultura Portuguesa, professor de Filosofia, autor de livros referentes ao fim do século
XIX e começo do XX, ensaísta do O
Último Eça, Geração de 90,
talvez tenha
pretendido fazer uma obra para os iniciados em Eça de Queirós, mais particularmente da
sua última fase de produção literária (1888-1900), algo já distante do Realismo-
Naturalismo, do Positivismo e mais próximo da espiritualidade, da religiosidade, vistas
no artigo de imprensa de Eça (
Gazeta de Notícias
16-17-19/07/1893, “Positivismo e
1...,975,976,977,978,979,980,981,982,983,984 986,987,988,989,990,991,992,993,994,995,...1290
Powered by FlippingBook