mais importantes acerca de sua vida e que fizeram-no ser quem é e, num sentido mais
crítico, a questão de que o texto tenderá à perspectiva enaltecedora do protagonista-
narrador, focalizando o que dele se admiraria. Se, além disso, se tratasse de um leitor
um tanto atento a detalhes históricos geralmente pouco considerados, poderia até saber a
quem se referiria tal Chalaça e resgatar toda uma imagem prévia de sua ambientação
histórica, ou seja, o primeiro império, ao lado do imperador D. Pedro I. O resgate desses
dados, concomitante a certa compreensão dos dados até ali oferecidos, dar-se-ia pelo
meio textual, ou melhor, intertextual: o título possibilitaria a ancoragem do
conhecimento prévio do leitor e, assim, o reconhecimento, mesmo que não consciente
de todo o processo discursivo e sob diversos níveis de competência, do gênero de
memórias (mesmo que fosse uma imagem rudimentar dele ou superficialmente
pressuposta) e seu relativo comprometimento com a realidade que, mesmo apegado a
posicionamentos, estaria limitado por dados documentais.
Deste modo, o “conhecimento de mundo” do leitor travaria contato com os
“elementos linguísticos", possibilitando estabelecer relações implícitas entre tais
elementos, o que seria a “inferência”. Além disso, agregando-se à compreensão do livro
enquanto memórias, cabe ressaltar que já na capa ressalta-se a imagem de que o texto
seria realmente composto por Chalaça, cujas memórias teriam sido apenas “trazidas a
luz por José Roberto Torero”, direcionando à problemática exposta na descrição desse
romance e do mesmo modo possibilitando tal leitura já pelo primeiro contato. Tudo isso
é reafirmado, outrossim, nas colocações no prefácio da obra:
O diário do conselheiro Francisco Gomes da Silva, o Chalaça, é um dos
documentos mais buscados de que se tem notícia na história nacional. O
interesse dos historiadores, entre os quais me incluo, justifica-se pelo fato de
que Gomes da Silva, secretário particular de D. Pedro I, foi um personagem
que viveu os mais importantes fatos do nascente Império brasileiro, e suas
anotações proporcionariam uma visão mais ampla dessa parte da história.
(Torero, 1994, p. 9)
Explica-se na sequência que a existência de tal diário se verificaria por ter sido
citado em outras obras da época e que os historiadores frequentemente buscavam nos
documentos da filha de Francisco Gomes, que havia se casado com um banqueiro e
morara em Nova York, o estimado texto. Expõe, assim, a trajetória de como teria
encontrado estes manuscritos que agora apresentava: com a tataraneta do filho bastardo
do Chalaça, no Brasil, já que não havia conseguido uma bolsa para viajar aos EUA, e