texto” (Koch, 1997, p. 21). Ou seja, a possibilidade de dotar o texto de sentido em sua
totalidade, processo pelo qual o leitor articula seu conhecimento prévio com os dados
oferecidos pelo texto, lançando mão de diversos mecanismos para abordar o material
linguístico, reorganizando-o de modo a estabelecer sua coerência a partir de suas pistas
e fatores pragmáticos possíveis de emergir pela interação. Dos diversos fatores de
construção da coerência enumerados nesta obra, nosso foco se deposita sobre o da
intertextualidade, cujo funcionamento se articula com os demais, expandindo seus
domínios na obra literária, além de também se manifestar pela releitura paródica.
A noção de intertextualidade adotada, tida como das mais importantes para a
leitura do romance contemporâneo, como é o caso do
Chalaça
(1994), será, portanto,
explorada para além dos campos da linguística textual. Nesse sentido, para Jenny (1979)
a intertextualidade estaria no próprio cerne da compreensão textual, da interação por
meio da linguagem: “A sua compreensão [da obra] pressupõe uma competência na
decifração da linguagem literária, que só pode ser adquirida na prática duma
multiplicidade de textos: por parte do descodificador, a virgindade é, portanto,
igualmente inconcebível.” (Jenny, 1979, p. 5-6). Ou seja, é a partir de textos anteriores,
de toda uma tradição de manuseio de material linguístico discursivamente disseminado,
que se conduzirá a “decifração” da obra literária que é, portanto, lida de acordo com o
contexto de interação, com as possibilidades desse leitor em perscrutar quase que como
um arqueólogo as tentaculares conexões estabelecidas, processo em grande parte
inconsciente, mas que pode ser estimulado objetivamente, além de apontar para a não
neutralidade das leituras: o leitor sempre traz todo seu histórico para o processo de
interação. Jenny também lembra que a rede de relações intertextuais que se constroem
se apresenta de forma dupla, ela se liga com textos literários pré-existentes, mas
também com sistemas de significação não literários. No caso do romance histórico, o
discurso da história ganha certo destaque nesse emaranhado de relações, embora, por si
próprio, tenha uma familiaridade bastante íntima, apesar de almejar crer-se científico,
com as criações ficcionais da literatura.
Outro ponto a ser mencionado é o processo de deglutição que se realiza pelo
jogo intertextual, principalmente no caso das narrativas latinoamericanas a partir da
última metade do século XX, voltadas para uma perspectiva crítica e nas quais os
autores se põem a “Brincar com os signos de um outro escritor, de uma outra obra”