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O mesmo procedimento de uso de imagem/foto é observado no Capítulo 4, p.
115-6, em que aparece uma foto da personagem fictícia, Angel Juncal Laprida, com
uma pequena biografia. Nesta há o destaque para o fato de não haver fotos desse “autor-
personagem” e para comentários acerca do texto que Laprida escreveu _1) “Diálogo
entre um cego, um surdo e um mudo” e 2)“Porquê o ser e não o nada”. Na página 117,
inicia o texto 1, e aparece uma nota explicativa no rodapé :
NOTA: Existe explicitamente uma dupla referência histórica neste conto: a. _ o
“Cego” não pode ser outro que Jorge Luís Borges, pelo que deveremos postular
que Angel Juncal Laprida terá reescrito este conto durante a década de 30,
quando ambos os amigos conviveram intensamente e Jorge Luís Borges soube
definitivamente que, à semelhança do pai, morreria cego; b._ a “Visão do
Abismo” refere-se, indubitavelmente, à experência místico-espiritista que
Angel sofreu na Societé Théosophique de Paris em companhia de Eça de
Queirós e de Paulo e Eduardo Prado. Aliás, a epígrafe de Hemingway
comprova em perfeição a revisão de texto na década de 30, já que
Winner
Take Nothing
só foi publicado a 27 de outubro de 1933. (VTpEQ, p.117 )
A nota de rodapé neste texto fictício da personagem fictícia, Angel J. Laprida,
vem corroborar o procedimento metaficcional de desafio ao leitor, ao fazê-lo
aprender/testar a História pelo seu próprio esforço, na medida em que mistura elementos
verdadeiros extra-textuais_ Eça de Queirós, Paris, Eduardo Prado, Paulo Prado
(sobrinho deste), a publicação da obra de Hemingway,
Winner Take Nothing,
_ com
outros elementos fictícios. O leitor iniciado nestes assuntos-chave, pode, de imediato,
apontar um procedimento metaficcional em relação à época histórica _ década de 30 _:
quanto à Eça, não se aplica todas estas considerações, pois este faleceu em 1900_ “a
“Visão do Abismo” refere-se, indubitavelmente, à experência místico-espiritista que
Angel sofreu na Societé Théosophique de Paris em companhia de Eça de Queirós e de
Paulo e Eduardo Prado” _ Lembramos que “[...] a ficção histórica pós-moderna
atribuiu-se licenças inimagináveis _ como a de juntar no mesmo tempo-espaço figuras
históricas que nem foram contemporâneas umas das outras [...] antes desprezadas tanto
pelos historiadores quanto pelos ficcionistas [...]” (BASTOS, 2007, p.98)
Assim segue do mesmo modo no capítulo 5, p. 132, ilustrado com a famosa foto
do Grupo dos Cinco (1884). O narrador começa a legenda colocando elementos
verdadeiros para fisgar o leitor, que deve desconfiar desse narrador, que parece estar
fazendo História da Literatura: no primeiro parágrafo insere dados extra-textos