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Em tempos pós-modernos, é procedimento habitual a retomada de textos de um
autor por outros autores, como pode ser comprovado na esteira de publicações, desde a
década de 1990, que revisitam as obras de Eça:
As Batalhas do Caia
(Mário Claúdio,
Dom Quixote, 1995);
O Enigma das Cartas Inéditas de Eça de Queirós
(José Antonio
Marcos, Cosmos, 1996);
Nação Crioula
(José Eduardo Agualusa, Gryphus, 1997);
Os
Esquemas de Fradique
(Fernando Venâncio, Grifo, 1999);
Madame
(peça de teatro,
Maria Velho da Costa, Cotovia, 2000);
Autobiografia de Carlos Fradique Mendes
(José
Pedro Fernandes, Editorial Notícias, 2002);
Os Patriotas
(peça de teatro, Miguel Real e
Filomena de Oliveira, Europress, 2003);
A bela Angevina
(José-Augusto França,
Editorial Presença, 2005);
Cem anos sem uma valsa
, Manuel Córrego, Campo das
Letras, 2006);
Eça agora: os herdeiros de Os Maias
(Alice Vieira e outros, Oficina do
Livro, 2007). Tal elenco de obras sobre Eça de Queirós pode ser entendido pelas
palavras da professora portuguesa especialista em Eça de Queirós, Isabel Pires de Lima:
A actualidade e a perenidade de um escritor decorrem sobretudo da capacidade
de os seus textos gerarem sempre novos leitores, produzirem ao longo do tempo
novas interpretações, convidarem à constante revisitação. Quando essa
revisitação se manifesta através de uma espécie de incorporação do texto ou do
universo imaginário do autor por parte de um de seu par, quando uma obra do
autor invade um século depois a de outro criador, quando um jogo intertextual
desse tipo se estabelece não apenas com um outro criador, mas com uma série
de outros criadores de diversas épocas e até de diversas nacionalidades, como é
o caso de Eça de Queirós, então estamos perante um escritor que decididamente
ultrapassou o tempo e é ele mesmo disseminador de arte. (p.69-70)
Nesses textos metaficionais, o leitor é chamado a exercer um papel de
intervenção. A palavra final, por conta de um procedimento dialógico e
plurissignificativo, é do leitor. Em função disso, nossa proposta de trabalho neste texto é
orientar o leitor por meio de comentários ao texto literário, para que este possa interagir
melhor e chegar a uma interpretação adequada, ou seja, comentaremos alguns
procedimentos metaficcionais utilizados pelo escritor Miguel Real em seu texto
A Visão
de Túndalo por Eça deQueirós
.
O texto metaficcional-
A Visão de Túndalo visto por Eça de Queirós
Na contracapa do livro, pode-se ler-se o resumo da ação: “Em Palermo Viejo,
Buenos Aires, em casa da filha de Angel Juncal Laprida, um dos companheiros de J. L.