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média alargada, urbana e cosmopolita, que vive em parcimoniosa euforia a plena
integração europeia.” (p 2002, 509) ; e no dizer do autor de
Visão de Túndalo por Eça
de Queirós
, Miguel Real, “[...] a seguir ao 25 de Abril nós ficámos mal com a nossa
História. A História era o fascismo, era os Descobrimentos, era o império de onde fomos
expulsos.[...] Mas agora, que já estamos no império, que já sabemos falar inglês, que já
temos carro e cartão de crédito (havendo até pessoas que já têm duas casas), começamos a
dar importância à nossa cultura. Agora que já somos iguais aos franceses e aos ingleses, já
podemos outra vez valorizar a nossa própria História.” (ADAMOPOULOS, 2008)
Tais comentários acerca do Portugal do século XXI vem a propósito da revitalização
do romance histórico, nas considerações de Miguel Real:
[...] E daí o romance histórico estar na moda, porque a nossa mentalidade colectiva
precisava de encontrar culturalmente as suas raízes. [...] O romance histórico deve,
reproduzindo a realidade, abrir outros horizontes. Mostrar as outras possibilidades que
aquela sociedade tinha e não desenvolveu Antigamente, até ao 25 de Abril,
pensava-se que o romance histórico era a reprodução, mais ou menos exacta, da
realidade. Um autor era tão mais fiel ao romance quanto mais fiel fosse à
História. [...]Mas também em Portugal, desde o
Memorial do Convento
que se
tem uma outra concepção do romance histórico. O romance histórico trata
efectivamente de um determinado período histórico, num determinado lugar, mas
não tem de reproduzir fielmente, veridicamente, a própria História. Pelo
contrário.
(ADAMOPOULOS, 2008)
A época contemporânea retomou o interesse pela matéria de extração histórica,
que remete não somente ao passado remoto, mas também ao fato contemporâneo, aos
dias cinzentos e cotidianos do homem comum (Cf. BASTOS, p.75). Para dar conta da
diversidade de caminhos trilhados pela ficção histórica contemporânea, além do termo
romance histórico, surgiu, dentre outros, o termo, metaficção historiográfica
(HUTCHEON, 1991), relativo a obras em que se constrói um grande tecido textual,
dominado por uma espécie de jogo narrativo no qual os personagens principais parecem
ser os próprios elementos textuais:
[...] o gênero romance. [...] refiro-me àqueles romances famosos e populares
que, ao mesmo tempo, são intensamente auto-reflexivos e mesmo assim, de
maneira paradoxal,também se apropriam de acontecimentos e personagens
históricos [...]. A metaficção históriográfica incorpora todos esses três domínios
[literatura, história, teoria], ou seja, sua autoconsciência teórica sobre a história
e a ficção como criações humanas (
meta
ficção historio
gráfica
) [itálico da
autora] passa a ser a base para seu repensar e sua reelaboração das formas e dos
conteúdos do passado. (HUTCHEON, 1991, p.21-22)