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da foto existe fora do texto ficcional. Verificamos que nesse pequeno trecho, o autor
Miguel Real, consegue empregar diversos recursos metaficcionais, direcionando a
leitura que o leitor deverá fazer e também antecipando que este romance é um texto para
iniciados em: literatura argentina _ menciona Borges várias vezes, como o iniciador do
conto fantástico _ “
O romance histórico deve, reproduzindo a realidade, abrir outros
horizontes. Mostrar as outras possibilidades que aquela sociedade tinha e não
desenvolveu. Nesse sentido, o Borges é magistral, e a dado passo o que escreve deixa de
ser romance histórico para ser romance fantástico.” (ADAMOPOULOS, 2008). Também
o leitor deve conhecer a produção literária
queirosiana, assim como a vida do autor
português, especialmente do Eça “parisiense” (1888-1900) e ainda ser iniciado em
literatura medieval, ao fazer uma aproximação com o texto do monge Túndalo. Explica
o autor, Miguel Real:
O romance histórico pode ajudar a conhecer, mas a intenção do leitor do
romance histórico é uma, a do autor é outra. Isto é muito importante porque o
leitor procura algum conhecimento no romance histórico, mas o
autor não
procura transmitir conhecimento no romance histórico, procura transmitir
aquilo que transmite em qualquer tipo de romance, que é uma emoção
estética,
um prazer, uma agradabilidade ou, se for um tema muito mau,
algumas páginas de perfeita repulsa, o que também é emotivo. Portanto, nesse
sentido, o autor do romance histórico não está a escrever história do ponto de
vista didáctico - isso são os manuais - tem um juízo de valor, uma perspectiva,
selecciona um conjunto de aspectos da realidade, por vezes transforma-os [...].
(MARTINS; PINHO, 2009) (negritos nossos)
[...] Hoje considera-se que o romance histórico tem como tarefa dar uma visão
condensada de uma sociedade de outro tempo, mas dando
inteira liberdade
ao
autor
para trabalhar esse tempo, não só nos sentimentos eternos dos homens (o
amor, a amizade, a tragédia, etc.), mas também mostrar facetas que estavam
c
ontidas mas que não foram realizadas. (ADAMOPOULOS, 2008)
(negritos nossos)
A metaficcão históriográfica exige bastante do leitor, na medida em que este
deve estar preparado para ler um texto, em que vai mesclando elementos extra-texto
verdadeiros e não verdadeiros. Uma atitude de “alerta” por parte do leitor, vai contribui
para que este faça uma leitura adequada, percebendo realmente em que momentos o
autor vai inserindo no texto elementos extra-texto não verdadeiros, podendo avaliar até
que ponto há um trabalho de trama no discurso, até que ponto o autor vai “tricotando”
fios verdadeiros e não verdadeiros e produzindo um texto metaficcional.