(Santiago, 2000, p. 21), para então superar o complexo de literatura colonial
influenciada pela metrópole, entregar-se a um manejo profundo de outros textos e
permeabilizar-se com eles, o que caracteriza uma “assimilação inquieta e insubordinada,
antropófaga” (Santiago, 2000, p. 20), uma “experiência sensual com o signo
estrangeiro” (Santiago, 2000, p. 21). Apesar de as palavras de Silviano Santiago se
direcionarem mormente à imagem antropófaga, ainda que não tão emersa, de autores se
relacionando com outros autores, tal questão jaz no cerne de qualquer processo de
leitura, no qual o fator intertextual se apresentaria na essência da compreensão e nunca
de modo imparcial:
trabalho de assimilação e de transformação que caracteriza todo o e qualquer
processo intertextual. As obras literárias nunca são simples memórias –
reescrevem as suas lembranças, influenciam os seus precursores, como diria
Borges. O olhar intertextual é então um olhar crítico: é isso que o define.
(Jenny, 1979, p. 10).
Deste modo, saber lidar com tal fator, trazendo uma imagem crítica do
intertexto, possibilitará uma leitura que alcance resultados mais eficazes a partir do
material linguístico fornecido. Isto posto, partiremos para a análise do romance em
questão, e de como a intertextualidade se configuraria no processo de leitura. Antes,
contudo, não olvidaremos trazer as palavras de Linda Hutcheon (1991), sobre auto-
imagem da literatura pós-moderna acerca de sua condição basicamente intertextual,
projetando tal consciência na construção narrativa e principalmente na utilização da
metalinguagem, uma vez que
O Chalaça
se aproxima de tais produções. Hutcheon, por
sua vez, resgata a teórica francesa Julia Kristeva (1974), com quem o termo
intertextualidade ganhou destaque, e que afirma, a partir da noção de dialogismo de
Bakhtin, que “todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é
absorção e transformação de um outro texto.” (Kristeva, 1974, p. 64).
No caso d’
O
Chalaça
, começaremos abordando questões referentes ao título e
ao prefácio, elementos que primeiramente ativariam determinados conhecimentos do
leitor e engatilhariam o processo da releitura crítica efetuada pelo romance e
materializada na interação. Ao deparar-se com as galantes memórias do Conselheiro
Gomes, o Chalaça, o leitor evocaria a ideia de como se conjugaria um livro de
memórias; no caso de já ter lido algum, acabaria por resgatar a formatação geral daquele
tipo de texto, por exemplo, características como geralmente ser narrado na primeira
pessoa, trazendo o que seria um apanhado dos momentos que tal narrador considera