unicamente na pessoa humana, sendo um indivíduo “totalmente centrado, unificado,
dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação” (Hall, 2003, p. 10). O
segundo tipo de sujeito – o sociológico –, reflete a crescente complexidade do mundo
moderno e, por isso, já não possui um núcleo interior centrado como havia sido o do
sujeito iluminista; tem a percepção de que sua identidade é formada na relação com
“outras pessoas importantes para ele”, que lhe medeiam valores, sentidos e símbolos – a
cultura – dos mundos que habita (Hall, 2003, p. 11). O terceiro e último sujeito – o pós-
moderno – é aquele que não tem uma identidade fixa, pois se forma e se transforma
continuamente pelas características sociais que o rodeiam. Esse sujeito assume
identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao
redor de um ‘eu’ coerente. A esse respeito diz Hall: “Dentro de nós há identidades
contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas
identificações estão sendo continuamente deslocadas” (2003, p. 13).
À primeira vista, podemos afirmar que, na peça do escritor latino, a personagem
Anfitrião se apresenta com as qualidades do sujeito iluminista definido por Hall. A
identidade do sujeito romano da época de Plauto se caracteriza, basicamente, por um
conjunto de representações particulares que se somam àquelas que definem o sujeito
iluminista. O centramento do indivíduo é alicerçado na crença religiosa, pautada pela fé.
O centro do sujeito plautino, em
Amphytruo,
é o de um indivíduo orientado por uma
concepção teísta e interior; isto é, mesmo em face da crise e da fragmentação, ele tem
seu processo identitário centralizado e sedimentado monoliticamente pela religião.
Plauto apresenta como núcleo da tensão dramática a crise de identidade pela
qual passam as personagens Sósia e Anfitrião, que suscita reflexões sobre a questão da
cisão do eu. As personagens vivem, em função da situação, fragmentações de suas
identidades e isso as coloca numa posição complexa. Tanto Anfitrião quanto Sósia
vivem uma situação trágica que os coloca em crise. No entanto, essa crise só poderá ter
fim por meio de sua aceitação – e, no caso do texto plautino, essa aceitação é religiosa.
Ou seja, aqui, é a aceitação que unifica e torna os sujeitos da peça seres monolíticos.
Assim, ao compor uma peça em que as personagens, tanto as heróicas quanto as
divinas, são carnavalizadas, Plauto está pondo em xeque a religião romana, mesmo que,
depois, isso se negue dentro da peça. Portanto, o sujeito plautino é centrado e, quando se
desestabiliza tragicamente, logo volta a se estabilizar em favor desse centramento –