O DISCURSO DO DUPLO EM SARAMAGO: A RELEITURA DO MITO DE
ANFITRIÃO EM
O HOMEM DUPLICADO
Nefatalin GONÇALVES NETO
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RESUMO: O livro
O Homem Duplicado
de José Saramago retoma, em suas linhas
mestras, o tema da duplicidade por meio da releitura do mito de Anfitrião. Nosso intuito
neste trabalho é o de mostrar como, por meio da releitura da peça plautina
Anfitrião
–
que por sua vez também é uma releitura do mito de Anfitrião – o escritor português
recupera o discurso do duplo e o entranha na narrativa, subvertendo seu protótipo base.
Dessa forma, o diálogo que a obra estabelece com o mito e a peça plautina é retomado
pelo escritor e transfigurado segundo uma proposta contemporânea de escrita.
Amparados pela literatura comparada, desejamos investigar como o tema do duplo é
tratado pelos mecanismos intertextuais que o escritor se vale para compor sua obra,
retomando/renovando esse protótipo. Do estudo apreendemos como o discurso do livro
de José Saramago, por meio de seus processos de releitura, atinge desfechos trágicos.
PALAVRAS-CHAVE:
Duplicidade,
Releitura,
Intertextualidade,
Literatura
Comparada, Mito.
Fernando Pessoa dizia em seu
Mensagem
que o mito é o nada que é tudo. Paensar
o que seja o mito e sua influencia em nossa cultura talvez seja, como nos propõe o
poeta, um artifício capaz de nos iluminar os olhos e nos permitir entender muito dos
processos sociais, literários, políticos e, principalmente, culturais que vivemos. Dessa
perspectiva, temos que o mito não seja apenas um dispositivo utilizado pelos antigos
para narrar os fatos acontecidos em relação sua vivência cotidiana, utilizando-se da
linguagem simbólica. Nele assentam-se concepções do mundo e de vida, sentimentos,
usos e costumes. O mito ultrapassa a noção de alegoria inventada pelos povos para
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Mestre em Literatura Portuguesa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, e-
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