escrita, justamente o processo de autoconsciência da personagem, mas com tratamento
diferente em cada uma delas, acompanhando o contexto tanto das ações narradas quanto
da época em foram escritas.
Assim, tomando esse tema como ponto de partida, verificamos que ambas as
obras permitem a seus leitores uma reflexão sobre a questão da identidade dos sujeitos
de suas respectivas épocas. Por conseguinte, nossa tarefa, neste momento, será ver como
se delineia a identidade das personagens em cada uma delas.
Enfim, podemos notar que, escritos em períodos e épocas diferentes, eles
expressam modelos condizentes com seus respectivos tempos. Na Antiguidade há uma
unidade primitiva em que o eu e o outro, apesar do embate, não entram em um conflito
intrínseco; não há tensão de identidade entre os duplicados. Na peça, os sujeitos
envolvidos resolvem suas tensões, e suas necessidades são satisfeitas por meio da
interferência divina.
O Homem Duplicado
, por sua vez, retoma o tema, mas o conflito
de identidade não apresenta solução. Há um processo conflitivo no qual a configuração
monolítica não se sustém.
A obra e suas realidades: motes para uma possível interpretação
Tanto em uma obra quanto na outra, é por meio do tema do duplo que a questão
identitária desabrocha; a presença do outro desestabiliza o eu, deflagrando a crise
interna do indivíduo. A estabilidade identitária, que poderia ocorrer graças à interação
com o outro, não se dá, porque o eu, ao invés de aceitar o outro em sua alteridade, o
nega. A cisão da personalidade, originária na figura do duplo, cinde a personalidade dos
sujeitos, tanto em um dos escritores quanto no outro.
Orientados por essa premissa, podemos recorrer aos conceitos de identidade
propostos por Hall (2003). Segundo esse autor, a identidade é um fenômeno social em
constante progresso e desenvolvimento. Ela é formada por meio da interação social e
depende da competência interativa do sujeito para se constituir. Além dessa função
social, a identidade também resulta de uma relação dialética entre a interioridade e a
exterioridade do indivíduo. O sujeito é, ao mesmo tempo, um ser teleológico e social.
Ainda de acordo com o mesmo autor, há três concepções de sujeito: o sujeito do
iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. O primeiro é baseado