A esse respeito, Compagnon (1996) defende que toda escrita é, na verdade,
uma reescrita, uma espécie de citação. Quando um autor se utiliza do recurso da citação
de elementos que estão fora dos limites de seu próprio texto, ele retira o sentido inicial
desse elemento, que se transforma em um texto à parte que serve o escritor em sua
busca de sentidos.
É importante salientar que são vários os recursos utilizados por Eco para a
construção da obra, porém, os mais recorrentes são as ilustrações e a citação de
referências e intertextos que apresentam uma relação com a trama narrada. Neste caso
específico, esses recursos dialógicos auxiliam o personagem Yambo a lutar pela
recuperação de sua memória perdida.
Compagnon (1996) entende também o dialogismo como um elemento-chave de
qualquer texto, sem o qual não seria possível a compreensão de nenhuma obra textual.
Segundo ele, o sentido do texto não está somente no material textual, ou somente no
autor e, tampouco, apenas no leitor. O sentido estaria na relação dialógica estabelecida
entre esses três elementos (texto, autor e leitor). Seria, então, necessário estudar as
relações dialógicas que permeiam um determinado texto a fim de melhor compreendê-
lo.
O teórico francês observa ainda que quando uma referência ou um intertexto é
citado, há uma espécie de mutilação, extração e desenraizamento do objeto primeiro,
pois, uma vez que é transposto para um segundo texto, o objeto citado ganha certa
autonomia, os sentidos que lhe eram atribuídos anteriormente não são os mesmos
sentidos que lhe serão atribuídos no segundo texto, tal qual uma metáfora, onde o signo
perde seu valor que é reconhecido automaticamente e o leitor precisa desautomatizar a
leitura para reconhecer o papel que o signo exerce no contexto.
Pelo que podemos observar pelo estudo prévio realizado até o momento, o
romance
A misteriosa chama da Rainha Loana
está alicerçado sobre várias camadas
intertextuais, sobrepostas e interpostas, que dialogam entre si. Eco recorre nesta obra à
utilização desse procedimento como forma de organização do conhecimento, usando e
abusando de chaves e registros variados.
Para a semióloga Julia Kristeva, o espaço intertextual é onde o significado pode
remeter a outros significados discursivos. De acordo com a estudiosa, o diálogo entre