Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 768

Itália que foi nacionalista e fascista, relembrando os horrores do período nas canções
patrióticas que memorizou e, questionando-se, sempre, como homem sem memória,
sobre como realmente seriam aqueles tempos e no que é que realmente pensava sobre
tudo aquilo. Este repensar da história italiana e a descoberta da infância de Yambo,
leva-nos a pensar em nossa própria infância, no que líamos e víamos, e como isso nos
modelou de tal maneira que, adultos, agimos condicionados pelas nossas descobertas
infantis sem que nos apercebamos de tais condicionamentos.
Ao criar uma autobiografia disfarçada, da qual mantém distância e não se
envolve, Eco acaba criando a biografia de uma geração inteira e, mais uma vez, como
fez em seus romances históricos, mostra que é preciso revisitar o passado para
interpretar o presente.
Para compor a obra em questão, Eco faz uso de vários recursos intertextuais,
como a colagem e a citação, além de utilizar muitas referências, alusões, figuras e
imagens. Em outras palavras, o autor mergulha na literatura e cria um romance
constituído de frases feitas, de palavras já ditas, nomes já ouvidos e histórias já lidas.
Ao homenagear a literatura, usando um protagonista que, ao perder suas próprias
memórias, só pode se reencontrar a partir das paixões de sua vida, Eco utiliza-se da
intertextualidade e da interdiscursividade para resgatar, passo a passo, a memória
perdida.
Para Cesare Segre (apud REIS, 1995, p.186), intertextualidade designaria as
relações entre texto e texto, enquanto que interdiscursividade estaria relacionada às mais
difusas conexões que todo texto, oral ou escrito, mantém com todos os enunciados (ou
discursos) registrados na correspondente cultura e ordenados ideologicamente. É o que
vemos, por exemplo, na leitura feita por Yambo das imagens que caracterizaram sua
infância e adolescência.
De acordo com Dirceu Magri (2010):
A intertextualidade são as relações possíveis entre vários textos, seja no âmbito de
compreensão, da história ou mesmo do plágio. A intertextualidade é um eco de
memória, é a lembrança nostálgica que leva a literatura a sua própria retomada e com
isso se articula, na transposição, com um novo sistema significante, o que resulta em
sistema operatório que denuncia a co-presença entre dois ou mais textos.
Este autor observa que o mecanismo da intertextualidade, muitas vezes
definido por outras denominações, como diálogo, trama, tecido, ao mesmo tempo em
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