discursos sempre ocorreu ao longo de toda a história literária, porém, nos textos
contemporâneos essa prática passa a ser uma constante (1989, p. 176).
A essa dimensão dialógica, presente no texto do autor italiano, está
compreendida certa concepção textual que entende todo e qualquer texto como se
tratando de um intrincado jogo entre os variados planos ficcionais. Remetendo-se ao
processo de produção da tessitura ficcional, Kristeva observa que “todo texto é absorção
e transformação de outro texto. Em lugar da noção de intersubjetividade, se instala a de
intertextualidade, e a linguagem poética se lê, pelo menos, como dupla” (1989, p. 46).
Kristeva formulou o conceito de intertextualidade baseada na definição de
dialogismo pensada por Mikhail Bakhtin. Segundo Bakhtin (1992), nenhum texto pode
ter um sentido isolado de outros, já que o seu valor semântico é resultado de sua relação
com tudo o que o cerca: outros textos, a sociedade em que foi escrito, o sujeito que o lê,
o sujeito que o escreve etc.
O estudioso Jenny Laurent (1979) divide a intertextualidade em dois tipos: a
intertextualidade explícita
(ou intertextualidade forte) e a
intertextualidade implícita
(ou
intertextualidade fraca). Para este autor, a intertextualidade explícita é aquela que, em
uma obra literária, usa de inferências intertextuais claras, como por exemplo a paródia;
já a intertextualidade implícita é aquela que não usa desse artifício, mas de modo algum
escapa do campo das relações dialógicas, já que seria impossível a compreensão de
qualquer obra se desconsiderássemos o seu diálogo com outras obras.
Embora o uso da intertextualidade em
A misteriosa chama da Rainha Loana
seja feito em grande parte de maneira explícita, pode ocorrer muitas vezes que o leitor
não o perceba, pois é necessário que este tenha o conhecimento prévio acerca dessas
referências para a melhor compreensão de determinados segmentos textuais usados pelo
autor. Em outras palavras, para que a obra seja melhor compreendida, o leitor deve
buscar o sentido proposto em sua memória discursiva, ou seja, em tudo aquilo que já foi
ouvido ou falado, e está arquivado em sua mente, que determina tudo o que ele pode e
deve enunciar. Quando a informação referencial é recebida pelo leitor/interlocutor, ele,
imediatamente, busca em sua memória semântica os diversos sentidos que o termo tem
e escolhe o sentido que julga mais pertinente para conotar o texto onde esse termo é
aplicado.